DESABAFO DE UM JOVEM LOUCO
CAPA DO LIVRO
DESABAFO DE UM JOVEM LOUCO
CONTRACAPA DO LIVRO
DESABAFO DE UM JOVEM LOUCO
DEDICATÓRIA
A Deus todo poderoso, único e
insubstituível ser que me dá a certeza de que todas as nossas loucuras são por
uma causa justa quando se trata de amor ao próximo.
Aos meus
familiares por sempre me acolher nas minhas loucas loucuras, e por me fazer
acreditar que só sendo um louco poderei certamente ser mais feliz.
À minha louca loucura de vida
por me inspirar nos bons e maus momentos de minha vida (Marly Batista de
Oliveira).
A todas as pessoas que se
encontram ao meu redor e acreditam que são normais só pelo fato de ter opiniões
opostas às das demais pessoas.
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus por ter me
dado a sensibilidade de poder pregar o amor em todos os lugares através de
palavras e principalmente através de gestos sempre verdadeiros.
Aos amigos que de certa forma
inspiraram minhas loucuras, e as fizeram transparecer nestas simples folhas de
papel.
Aos “NORMAIS” que sempre me
deram alternativas para que eu fosse cada vez mais louco, e buscasse nas minhas
loucuras uma chance de não cometer os seus mesmos erros.
PREFÁCIO
“Como a Etimologia
ensina coisas – é como se a origem das palavras contivesse toda a sabedoria do
mundo”
M. JULIETA DRUMMOND DE ANDRADE, O valor da vida.
Temos
aqui, portanto, mais uma obra pródiga, de significação básica, pois é aplicada,
por exemplo, consoante conflitos existenciais e desequilíbrios emocionais os
quais se sucedem, alternadamente, em virtude do ser humano chegar ou não a
conclusões, devido, no início, não compreender o comportamento da imagem humana
que lhe aparece. Sem critérios científicos, entretanto, pelo senso comum, cria
uma psicologia comportamental objetiva cuja função é definida como um conjunto
de situações que levaria o ser humano a conhecer e compreender todas as fases
daquele jovem “louco”. Segundo sua
determinação, o seu caráter consistia em
testar, arbitrariamente, a sua relação com os outros visto que só haveria
contestação diante das ocorrências ou eventos definidos cuja organização
contribuiria para estabelecer relações do tipo sócio-culturais.
Tal procedimento é válido em contextos
diferenciados, veja como o personagem se comporta em todos os capítulos. Nesse
caso, o autor possibilita momentos adversos ao pensamento do jovem “louco”.
Várias passagens da obra fazem referências a conteúdos emocionais,
experimentados pelas suas idas e vindas, por não saber, ainda, da sua própria
existência.
É
nesse clima caótico da dúvida e das incertezas, do certo e do errado, a
personagem, impotente, resolve enfrentar a vida e fortalecer seus sentimentos
no sentido de superar o egoísmo, a falta de solidariedade; desejando ações
concretas e, sempre, preocupado com a
felicidade dos outros.
Ao
contrário de todos pensarem que ele era louco, e não o era, também, precisava
do amor para transcender os obstáculos de forma que atendesse não só a ele mas
a todos os cidadãos. E, também, lutar
por uma afirmação ideológica.
Assim,
o principal personagem torna possível evidenciar ao mundo um tratamento de
sentimentos entre as pessoas, embora desprovidas de conhecimento; mas disposto
a ser um modelo para os outros, mesmo sacrificando seus projetos pessoais.
Por
isso, ele passou a acreditar em um mundo melhor para si e para os outros.
Então,
a obra apresenta um instrumento natural que é a educação como meio de
fortalecer, avançar, transformar o ser humano porque ela estreita relações,
alarga horizontes e demarca projetos para o futuro.
Assim
é o autor; assim é José dos Reis Vieira, um escritor. Consciente de seu dever,
consciente de sua função; assim é a obra, natural, pessoal, real, social,
enigmática; religiosa; absolutamente, um retrato, um retrato do consciente que
basta um transtorno para sermos “loucos”; loucos pela vida, loucos pelo irmão,
loucos pelo amor. Assim é o autor-personagem, solidário.
Miguel Ângelo Alvarino Ramos
APRESENTAÇÃO
Todos temos uma história de vida muito peculiar e, neste manifesto natural, às
vezes, nos degradamos de nossos sentimentos, imaginando sermos outra pessoa;
isto constantemente faz com que não percebamos o mundo vazio que se encontra
dentro de nós. As palavras expressadas, por cada um, são muitas vezes
confundidas com um aglomerado de informações desnecessárias, que nos elevam à
categoria de seres insensíveis capazes de poder camuflar até a nossa própria
existência.
Não dá mais para aceitar os
obstáculos insuperáveis e
nem objetivos que não sejam alcançados
por nossa própria vontade, sem sermos dissimulados com as pessoas as quais
encontramos pelo caminho. Ir além de
nossos limites deve ser a dinâmica de vida de quem se diz humano; ficar
estático, sem ter uma meta, capaz de nos fazer acreditar que realmente estamos
vivos, é uma atitude inaceitável por parte de todos aqueles cuja esperança
depositam em nós.
De qualquer forma há uma retórica
muito superficial quando tratamos de cada ser humano. Devemos então nos tornar
dignos de cada atitude que formos praticar, mesmo que essas atitudes nos levem
a imaginar que não podemos nada. Há uma necessidade básica de pelo menos
tentarmos ser aquilo que almejamos para nós. Só que nos vemos num universo
mágico, onde o anjo de cada um se vê
tentado pelos demônios que se encontram ao redor dele, querendo que ele desista de trilhar o seu caminho.
É aí que percebemos toda a forma de
poder que existe dentro de cada ser humano. A mente humana é superdotada de
forças que vão além de qualquer
pensamento, e, impreterivelmente, nos
mostra que realmente somos capazes e que
precisamos acreditar sempre na possibilidade, mesmo quando o fracasso vier de
encontro à nossa pessoa.
Quando fazemos uma viagem para bem
dentro de nós, conseguimos enaltecer e ficar repletos do mais lindo dos
sentimentos que qualquer ser humano pode ter, e que de alguma forma se vê
escondido, esperando apenas que o egoísmo seja desnivelado pela nossa força de
vontade e pela solidariedade que está ali, esperando apenas a sua oportunidade
para nos mostrar todas as suas bem-aventuranças.
BIOGRAFIA
José
dos Reis Vieira mais popular (Zezinho), nasceu na cidade de Morrinhos no Estado
de Goiás no dia 08 de setembro de 1971, onde residiu durante os primeiros cinco
anos, partindo em meados de 77 para a cidade de Colinas de Goiás, hoje Colinas
do Tocantins.
Antes
de entrar na escola já traçava os seus primeiros rabiscos na areia, ali estava
nascendo naquela humilde chácara, o poeta, e com suas primeiras letras,
apareceram também os primeiros pensamentos, e como sonhava alto, o menino!
Sua
vida estudantil começou em 1979 na Escola Estadual de 1º Grau Ernesto Barros,
onde terminou o 1º grau em 1986. Iniciou em 1987 o Curso técnico em
contabilidade no Colégio João XXIII terminando em 1989. Por falta de vaga na
área contábil iniciou em 1992 o curso técnico em Magistério no Colégio Estadual
Pres. Castelo Branco concluindo em 1994. Desde 1995 está no Magistério
municipal de Colinas.
Cursou Pedagogia na
UNITINS no Campus Universitário de Guaraí – TO de 1998 a 2001. É pós-graduado em Ensino especial pelo IBPEX
(instituto Brasileiro de Pós-graduação e Extensão).
Escreveu o livro “O amor e a vida” em 2003, sendo bem
aceito pelas pessoas que adquiriram e tiveram o prazer de ter em suas mãos
aquilo que realmente retratavam os seus sentimentos, tanto patriótico quanto
romântico, em 2004, porém, não foi diferente, “Rabiscos de Sentimentos” deu seguimento àquilo que o poeta fez na
sua primeira obra. Em 2005 abriu as Janelas
Poéticas do seu sentimento, e mostrou ao público mais um trabalho
acreditando e pregando que precisamos abrir cada uma dessas janelas para vivermos bem melhor.
Em 2006 novamente se pôs
a mostrar o porquê de suas andanças pelo universo mágico do amor, pregando toda
a sua essência no mais célebre dos corações humanos e o livro Pra não dizer que não falei do amor
tocou bem no fundo das emoções de todos aqueles que tiverem a oportunidade de
conhecer o teor de suas páginas.
Agora em 2007, mudando
radicalmente vem a público, com uma nova
metodologia, e o livro Desabafo de um jovem louco está mostrando uma
nova face do autor, esperando com isso proliferar o número seus discípulos a
fim de demonstrar que se pode ser feliz com o que a gente é, e não pelo que as
pessoas nos desejam.
Esta
obra é a marca registrada de alguém que sempre acreditou nos seus ideais, mesmo
sabendo que a trajetória de nossas vidas às vezes, é um amontoado de equívocos
que são praticados por nós e por todos aqueles que estão à nossa volta, é
preciso que o amor não seja apenas mais um sentimento, é necessário que além de
sentido, ele precisa ser vivido e elevado ao mais alto grau de sublimidade.
UM ROSTO NA MULTIDÃO
Numa manhã de setembro, um dia como qualquer outro, marcas de um sol abrasador no rosto das pessoas que se
mostravam na rua. Ninguém ousaria dizer que não era um dia lindo, mas realmente
era um dia lindo. E no meio de tanta euforia,
pessoas trafegando para lá e para cá, deslocando-se para o trabalho e
compras, havia a figura de um rosto o qual o sol conseguia muito bem esconder,
mas não conseguia apagar as marcas que o
tempo havia lhe deixado. Ele estava lá,
olhando fixo, tentando decifrar o pensamento das pessoas, que como eu, também
tinha o seu ponto de vista, que poderia
fazer do meu mundo algo melhor. Aproximei-me, então, daquela pessoa e tive uma
enorme surpresa, quando percebi que da minha memória vã, ela fazia parte. Só
que eu não conseguia entender nem como e nem por que. O meu pensamento viajou,
viajou. Eu não conseguia me lembrar de
nada e aquela manhã seria o ponto de
partida para eu repensar tudo que houvera acontecido na minha
vida.
Quis falar alguma coisa àquela pessoa
de olhar tristonho, entretanto não conseguia. Parece coisa mais absurda do mundo,
mas o que me adiantaria? E para
ela, adiantaria alguma coisa? Se nada eu poderia oferecer além da minha
força de vontade, e da minha maneira otimista de ver o mundo, pois muitas
pessoas dizem ser pessimista. Fiquei somente a olhar, parece que aquilo estava
preso em mim, era uma coisa mexendo
comigo, mas a pessoa continuava com o seu olhar fixo de tristeza, impassível,
somente a verificar o vai-vem das pessoas,
como ela, deveriam ter uma angústia em suas vidas.
Aquela manhã, para mim, estava completamente
acabada, não entendia nada, mas aquele rosto na multidão queria me mandar uma
mensagem, porém eu não conseguia compreender o que realmente era. Foi terrível.
Fiquei impressionado com aquela figura martelando a minha mente, gostaria de
procurar entender aquele ser misterioso de forma concreta, mas era muito abstrato para mim, e o meu tempo,
naquela manhã, apesar de passar tão rápido e de não conseguir fazer nada, eu
tinha certeza de que ele não teria sido desperdiçado, haveria alguma razão
para eu estar ali naquele exato momento,
e de ter esquecido tudo que eu precisava lembrar naquela instigante manhã.
Foram, aproximadamente, duas horas
observando aquela pessoa misteriosa, não sei por que, mas alguma coisa estava
relacionada com a minha vida. Os meus pensamentos viajaram para muito distante
de mim. Situei-me para que tudo
estivesse bem organizado na minha mente, e
não cometesse nenhum equívoco; então resolvi fazer o que ela estava
fazendo. Ela olhava a multidão no vazio do seu olhar, e eu olhava para ela,
querendo encontrar uma razão para aquilo que eu estava vivendo. Quando observei
bem dentro dos seus olhos, senti um vazio gigantesco dentro de mim, apesar
de seus olhos estarem lacrimejando, pela
tristeza que estava sentindo. Sem
perceber, dos meus, também, caiam as lágrimas, contudo eu não conseguia saber
por que; porém, sentia dentro de mim uma
razão muito forte para que elas descessem e molhassem o meu rosto.
Voltei para casa. Aquela pessoa mostrou um flash
back da minha vida. Deitei e fiquei com aquilo em minha mente. Era uma coisa
extraordinária que estava acontecendo comigo, nunca havia imaginado ser tão
sensível, como estava me sentindo naquele dia. Tudo estaria igual se não fosse
aquele rosto entristecido que me mostrava à multidão, que se mostrava
indiferente, mas que de alguma forma eu
teria algo a ver com ele. Elevei meus pensamentos e comecei a me perguntar e a
lhe perguntar o porquê de ele estar ali naquele exato momento. As respostas começaram a aparecer como se me
levassem a algo que eu nunca houvesse imaginado, por mim e pela minha mente
limitada de pensamentos possíveis e de sonhos impossíveis. Ela me mostrava
naquele momento, tudo que eu poderia fazer para melhorar a minha vida e
encontrar uma razão para viver.
Continuei a questionar aquela pessoa,
em minha mente, e continuava estática, mas
tinha uma razão, para estar daquela forma. Os minutos passando, a minha
agonia aumentando por não saber o que teria me acontecido durante toda a minha
existência. Aquela figura exposta no vazio do meu mundo me fez recordar de
pequenas coisas deixados de fazer, ao
percorrer nos meus pensamentos uma pequena parte da minha vida. Estava aos
poucos revivendo um passado. Poderia ter sido melhor, se não fosse a minha
imaturidade e a minha falta de fé ao enfrentar os problemas que outrora
apareceram na minha vida. Eu não queria pensar nos fracassos, se é que houve
fracassos, apenas eu não me sentia preparado para enfrentar os problemas de
maneira a superá-los, pois naquele instante de minha vida eles não eram
importantes, ou eu não conseguia vê-los com a devida importância que mereciam.
Eu que nunca havia pensado pós-morte,
estava naquele frio e isolado quarto a imaginar, através daquele rosto, o que
seria de mim? Por que morremos? E sem
que eu percebesse estava chorando,
bateu-me um desespero, sentia-me
mais frágil do que realmente era, não estava compreendendo porque eu estava
daquela forma, pois, há poucos segundos atrás, era uma pessoa super fortalecida
e capaz de ver a felicidade em cada ser humano. E continuei naquela maresia sem
conseguir respostas às minhas perguntas.A cada segundo aumentava ainda mais e cada vez mais me
sentia inútil diante de tantas dificuldades
no meu viver.
Não conseguia ficar quieto dentro do
meu silencioso e obscuro aposento, andava de um lado para o outro como quem
procurava alguma coisa para realmente me satisfazer diante das expectativas que
procurei para o meu pequeno universo. E o meu universo era pequeno mesmo pois
só conseguia ir de mim até aquele rosto misterioso, que se escondia nas sombras
do meu infinito pensamento, e só por ele estar ali, era mais um motivo para que
eu não me sentisse só, mas eu teimava em me sentir só, porque não conseguia ver
naquele rosto o que realmente seria o meu maravilhoso e irrepreensível viver.
Parei um pouco, lavei o meu rosto e novamente estava a me perguntar e a
perguntar àquela figura que permanecia indiferente à minha agonia, o porquê de
passar toda a minha vida procurando respostas às coisas que não tinham valor
algum, mas aquele rosto dentro de mim, eu sabia que poderia trazer de alguma
forma uma razão para a sua e para a minha existência.
Quanto mais eu fazia perguntas, mais
eu via que não conseguiria respostas e sem respostas as dúvidas se
multiplicavam a cada novo segundo que parecia uma eternidade. Realmente, elas
eram a minha eternidade porque eu tinha certeza de que elas não iriam sair da
minha mente, mesmo que um dia eu chegasse a ter as respostas necessárias a
todas as perguntas que eu fazia no vazio e silêncio do meu quarto. E quanto
mais eu me dirigia àquela figura, mais eu me sentia inútil, porque sempre
queria aquilo que não era possível.
Sempre procurava respostas que seriam vagas por não me dar o suporte
necessário para que eu pudesse ser uma pessoa completamente feliz.
Adormeci, deitado ali na cabeceira da cama, sem ter
respostas, mas a figura continuou comigo, entrou nos meus sonhos e começou a me
dar respostas que antes havia feito e
que estavam martelando em minha nobre e insensata consciência. Parecia que a minha
cabeça era um vídeo onde nele estavam retratadas todas as coisas praticadas
durante minha itinerante vida. Cada vez mais eu sonhava, mais encontrava
respostas ao que estava perguntando, e a cada nova resposta, apareciam outras
perguntas que aumentavam ainda mais as minhas dúvidas. Despertei, então,
daquele sonho, que eu acreditava, tinha alguma coisa a ver com que estava
acontecendo no meu cotidiano. Permaneci, ali, estático como se fosse uma
gravura sem vida e sem a esperança de encontrar todas as respostas necessárias
para o que eu estava a procurar, o meu vídeo cerebral não conseguia raciocinar
direito e havia se tornado uma verdadeira babel, por tamanha balbúrdia que
estava acontecendo em minha vaga mente.
Já era outro dia. A ressaca de uma
noite mal dormida me prejudicava. Eu tentava encontrar forças para sair daquele
universo de marasmo que me dominava, mas nada me fazia esquecer de tudo que me
acontecera no dia anterior. Fui forçando a
mente e quanto mais eu forçava, percebia toda fragilidade dentro do meu mundo; quanto mais fraco
sentia-me, mais força fazia para que as respostas viessem a solucionar de vez
todos os problemas enfrentados pela
frágil mas determinada mente. De tanto fazer força, eis que começou aparecer aquela figura à minha mente,
trazendo-me algumas pequenas respostas que durante a vida tinham me massacrado
e me tornado uma pessoa desacreditada nas próprias possibilidades de enfrentar
os problemas que, com certeza, aparecem na vida de todo ser humano.
Mesmo meio sonolento, aprendi muita
coisa naquela manhã. Não encontrava formas de satisfazer as minhas necessidades
porque precisava de respostas mais claras e convincentes, bem diferentes
daquelas que a minha mente retratou e alcançou através da projeção daquela
figura misteriosa que me acompanhou durante o dia anterior. Era o complemento
de tudo que precisava. Segui, então, o questionamento daquele ser imaterial
sempre presente. Estava me tornando meio maluco, porém estava novamente me
dando forças para prosseguir o caminho sem aquele terrível medo de não ter
história para contar e nem de deixar este mundo sem me tornar importante para
as pessoas. Assim as respostas foram aparecendo mais e mais. Senti-me
completamente aliviado, pois durante toda a permanência daquela figura na minha
mente, eu havia tido todas as respostas de que realmente precisava, só que não
estava entendendo qual era o significado delas.
A figura, a cada nova resposta, ia se
desmaterializando e desaparecendo aos poucos da minha mente e cada vez mais eu
entendia os significados. Tornava-me
mais leve e solto; mais alegre eu ficava pois não era aquela caricatura de
humano, que estava ali, naquele momento, agonizante do dia anterior. Estava quase que
completamente satisfeito com as respostas, mas uma coisa me intrigou, aquele
rosto estampado na multidão parecia divino, fazendo-me acreditar na
possibilidade de um mundo, evidentemente, muito melhor, só que quanto mais eu
forçava para que ele permanecesse ali comigo, mais desaparecia, até sumir
completamente na pequena imensidão do meu quarto, que ficou completamente
tomado de luz.
Percebi então que havia encontrado com
a pessoa certa e na hora certa, no momento em que eu mais precisava de
respostas, encontrei naquele rosto tudo que eu precisava para ser um ser
completamente diferente do que eu era.Eu que me tornava desacreditado em mim
mesmo, vi-me mais confiante e perseverante na minha árdua luta em busca dos
diversos tipos de amores. Eu que me sentia fraco, vi-me fortalecido pela
própria vontade de viver e comandar a minha vida. Eu que não sabia, realmente,
quais os objetivos da vida, conseguia ver ali, na minha frente, tudo que
poderia ser o meu futuro. Eu que não tinha a mínima vontade de viver, me tornei
capaz de ver em minha vida motivos para encontrar a verdadeira face do amor em
todos os seres humanos.
Aquele rosto então poderia ser apenas
mais uma invenção da minha mente maluca que cria e recria a formas do meu
enlouquecido viver, mas fez-me acreditar que eu poderia ser alguém e de alguma
forma me traria as benquerenças de um ser humano em busca de sua verdadeira
felicidade. Parei, então, outra vez, e virei o meu rosto para o espelho, e lá
estava aquela figura misteriosa novamente a me perseguir, pois ela era o
retrato da minha própria pessoa, e a cada novo questionamento que eu me fazia
mais em dúvida eu ficava por não perceber que ela era eu, e em todos os
instantes de nossas vidas estamos nos deparando com a nossa própria imagem e
isto se chama reflexão, um tipo de encontro com nós mesmos.
Senti-me, então, uma pessoa
completamente realizada, pois tudo que eu precisava para mim, não poderia
encontrar nos outros, mas em mim mesmo e, às vezes, procuramos nos outros
aquilo que só encontramos bem dentro de nós. Lavei novamente o meu
rosto.Lágrimas caíram do meu semblante, mas lágrimas de uma felicidade que eu
esperaria ser infinita, pois quando eu estava naquele estado depressivo elas
vieram para deixar-me mais triste ainda. Agora elas estavam ali para me mostrar
que eu era um vencedor e, a partir de agora, durante toda a minha existência,
eu precisava de confiança em meus próprios esforços para não tornar a vida sem sentido. Deixei-as caírem porque
estava precisando daquele momento de encontro com o meu próprio rosto, que se encontrava perdido no meio da multidão
e agora havia se tornado a minha própria
razão de ser.
UM ROSTO DENTRO DE MIM
Ressaqueado pela minha indiscriminada busca,
em explicar todo o acontecido em minha vida, deparei com o espelho; fitava-me
meio triste, tentava me convencer, realmente, de ser herói e buscar forças para que tudo fosse do
jeito como um dia eu havia sonhado. Estava ali, perdendo o meu tempo sem achar
um caminho para as minhas pretensões em
busca de um amor. Poderia até ser eterno, se eu pudesse pelo menos encontrá-lo.
Olhava o espelho e via que estava faltando um pedaço da minha imagem, olhava de
ângulos diferentes, mas não adiantava. O reflexo do meu corpo teimava em sair
de forma fragmentada, revelando-me uma
necessidade básica de fazer uma viagem ao fundo do meu próprio ego. Parei,
refleti, e olhei novamente aquele espelho. Refletia sempre o meu rosto de forma
desfigurada. Estava desaparecendo dentro de minha própria imagem, e cada vez
mais eu olhava, mais ela se tornava transparente. Estremeci por dentro, parece
que eu estava perdendo completamente a minha essência de vida. Estava quase na
última escala de minha imagem, eis que, de repente, estava refletido aquele rosto que havia me
feito muito e muito pensar sobre tudo em minha vida.
Olhei para o espelho, não parecia mais um espelho, pois
dentro da minha imagem transparente estava o reflexo de outra , semelhante a um
quadro, mas um quadro em que estava refletida toda a minha história de vida.
Abri os olhos com bastante força para que a surpresa não me viesse novamente .
Eu estava tão estático. Não dava mais para perceber se tudo aquilo que estava
passando comigo não era apenas coisa da minha fértil imaginação. Olhei no fundo dos olhos daquela imagem meio sem
vida, meio eterna, porque estava dentro de mim . Não havia formas concretas de
ela sair e mostrar um caminho para
minha vida, pois ela já estava fazendo parte de mim, ou melhor dizendo,
ela estava dentro de mim e eu não encontrava formas para tirá-la, e nem
adiantaria pois eu não sabia se era aquilo mesmo que eu queria.
Briguei muito para não me perder no vazio das pessoas. Quando
saí daquele quarto, percebi que faria algo para modificar o meu viver. Nada
estava certo até o momento, precisava de uma mudança radical. Teria que me
esforçar para ser feliz a minha maneira.
Naquele dia fui em busca de uma chance de ser outra pessoa. Havia renascido ao
olhar aquele espelho que me trouxe a necessidade de revirar a minha vida.
Olhava para as pessoas na rua; precisava de alguma resposta que certamente não
iria encontrar em mim, mas nas outras pessoas; estava confiante das respostas para todas as perguntas feitas àquele ser inanimado do espelho,
estaria dentro do próprio viver.
Eu estava completamente louco, se
bem que louco não pensa muito para fazer as coisas, mas o meu pensamento estava
completamente misturado de sentimentos e ações desorganizadas que com certeza
não poderia me levar a lugar algum. É isso! Um louco que tentava apenas um
caminho para se livrar de todo o universo de loucuras que estava à minha volta.
Permaneci na minha caminhada, meio desengonçada, sei lá, pois nem sentia
realmente os meus pés no chão, parece que eu estava flutuando, mas sentindo um
peso tão enorme das palavras porque não
tinham sentido. Estava me perdendo
dentro de mim , e foi assim que eu percebi um insight, como se ele fosse a
coisa mais importante da minha vida. Para entender quem eu era, olhava para as
pessoas meio desoladas, tentando achar uma saída, mas quanto mais eu olhava
para os diferentes tipos de pessoas, mais eu me sentia diferente, ninguém
sequer se aproximava da minha maneira de ser, eu era completamente o oposto de
todos eles. Senti ser a pessoas mais inútil do mundo porque não conseguia
encontrar alguém que fosse da minha espécie, imaginava então ser uma espécie em
extinção.
Voltei para casa naquela ensolarada
manhã, sem conseguir realmente êxito na minha busca pela evidência da minha
imagem. Olhei para o espelho. Lá estava o meu rosto, bem nítido, mas estava novamente, aos poucos, desaparecendo.
Dando lugar àquele rosto pálido e
completamente entristecido. Deitei, já estava cansado de imaginar o que seria
da minha vida. Minha mente também cansada de buscar alternativas, se rendeu ao
cansaço. Então adormeci e, nos meus sonhos, lá estava novamente o semblante
daquele rosto, querendo me trazer uma mensagem e uma chance de encontrar
realmente a felicidade. Já estava quase chegando a uma conclusão do que seria
aquele rosto. Minha razão de viver estava em algum lugar, dentro daquela dimensão
tridimensional do espelho. Quando já
estava quase conseguindo a resposta, eis que acordei. Sentei na beira da cama.
Senti arder o meu rosto. Lembranças me invadiram, e me fizeram novamente raciocinar, mas todos os acontecimentos que
apareciam na minha mente, faziam-me sentir muito vazio, deveria ser a solidão
pois ela havia tomado e dominado completamente a minha vida.
Voltei-me novamente ao espelho,
olhei bem fixo os traços do meu rosto. Eu já estava para perder toda minha
essência na transparência, quando comecei a indagar para aquele rosto, o porquê
daquela perseguição implacável. Fazia perguntas e mais perguntas, mas a minha
voz não saía, e como eu não conseguia nada, pois aquela figura permanecia
imutável, não adiantava nada, parecia uma fotografia envelhecida na parede, que
só poderia se movimentar quando alguém viesse e a tocasse. Então, através desse
pensamento consegui a primeira resposta
concreta a todas as perguntas. Eu estava precisando de atitudes, mas de atitudes
convincentes; mostrar a minha própria
explicação para o que estava acontecendo comigo. Aquela resposta para mim foi
algo que me fez sorrir ligeiramente. Eu
consegui me situar um pouco no tempo, pois já estava perdendo a minha identidade
e isso não era exatamente o objetivo
para a minha vida.
Saí da
frente daquele espelho, com certeza, eu
precisava mesmo era acreditar no meu próprio potencial. Estava confiante.
Acharia respostas às perguntas soltas no tempo e no espaço. Todas elas
dependeriam de como eu me encontrasse e
como poderia enxergar as pessoas que estavam ao meu redor. Então resolvi
tomar a primeira atitude que iria mudar a minha vida completamente, pois estava
cansado de ser aquela pessoa cheia de dúvidas e sem respostas. Queria ser reconhecido pelas pessoas amigas.
Comecei, então, ali mesmo, a minha luta em prol de um seguimento o qual me
faria uma pessoa completamente sem preconceitos e cheio de amor dentro do
coração. Imaginei então alguma forma de me expressar, deixando-me sentir mais solto e mais confiante no que
poderia ser a partir daquele momento. A vida havia oferecido-me oportunidade para eu me sentir um vencedor.
Eu tinha que agarrá-la sem nenhum constrangimento; queria ter a certeza de que não estava vivendo apenas mais um sonho. Voltei para casa e me
deparei novamente com o espelho e para a minha surpresa havia mudado o
semblante. O meu rosto não estava mais
desfigurado como havia acontecido durante todas as minhas visitas
anteriores. O meu rosto não era mais aquela caricatura de sentimentos opostos,
da forma que eu estava vendo, já estava me tornando o que realmente eu era, só
que desta vez com atitudes diferentes. Olhei
para o espelho bem no fundo dos meus olhos, pareciam querer me mostrar horizontes e sem
dúvidas haveria muitos horizontes para serem desbravados. Estavam escondidos em algum lugar dentro de
mim.
Procurei
focalizar aquele rosto, novamente, para buscar soluções as quais eu precisava;
ver se encontrava mais uma forma de me completar, quando comecei a entender
ainda mais o que representava o meu viver. Olhei bem profundo nos meus olhos e percebi nos
contornos daquele rosto, o mesmo rosto
que eu estava vendo e que ele residia dentro do meu universo de pensamento, de
alguma forma ele estava ali para me mostrar que eu precisava refletir cada vez
mais as ações praticadas no meu viver. Então resolvi deixar aquele rosto
penetrar dentro do meu ser e fazer dele
as minhas aspirações, tentado encontrar um mundo muito diferente daquele que
estava vivendo antes de encontrar aquele ser misterioso naquela ensolarada
manhã de setembro. Resolvi então tomar a segunda atitude em minha vida, ajudar
as pessoas porque delas dependeriam o
meu próprio viver, e, neste pensamento, entrei na batalha de ser um bom
samaritano. O meu lema era o de fazer o bem sem olhar a quem. Esta poderia ser
uma atitude que viesse me trazer vários contratempos, porque as pessoas são
completamente diferente uma das outras, e o que você faz para uma pessoa não
tem o mesmo valor para outra. Mas não
estava me intimidando, naquela altura aquilo não era nem mais uma atitude, era
mais um dos objetivos em minha vida.
Pensei
por longos vinte minutos. Essa reflexão
me fez fortalecer ainda mais a idéia de que eu estava no caminho certo. Queria
extrapolar os meus próprios limites. Deixar
as minhas dúvidas serem esclarecidas por minhas próprias perguntas,
porque quanto mais eu me perguntava, mais eu tinha para me responder. Respondia
na tentativa de justificar a minha própria existência. Satisfiz as minhas
dúvidas; eu tinha certeza, não eram apenas minhas, mas de todas as pessoas que
procuravam ir de encontro à face do verdadeiro e magnífico amor. Senti então
que eu era humano e precisava das
pessoas viventes ao meu redor. E quanto
mais eu me aproximava de uma verdade, mais
me sentia eu. Neste ínterim de reflexões positivas houve uma titubeação
dentro de mim, não queria hesitações
naquilo que eu pretendia fazer da minha vida, mas só pelo fato de sermos humanos e termos os
nossos próprios defeitos já é motivo para deixar em dúvidas aquilo que
pretendemos e buscamos na tentativa de
darmos sentido ao nosso viver.
Foram pequenos momentos que
tentei somar a tantos outros que estavam dentro de mim, na esperança de um dia eles se tornarem a minha pequena
eternidade. Meditei bastante em tudo e percebi então que o rosto no espelho não
passava de momentos passados em minha
vida, estavam vindo à tona, morando
dentro do meu inconsciente em algum lugar na minha vaga consciência. Voltei
novamente ao espelho para reformular os meus conceitos que já tinha se formado
na minha mente sobre a felicidade Olhei fixo ao espelho e vi meu semblante
cheio de luz. Havia me transformado. Depois daqueles quase eternos vinte minutos de reflexão, tudo
estava mais claro dentro de mim. É como se eu estivesse procurando uma coisa há
muito tempo e de repente encontrasse. É como se uma determinada tarefa
parecesse impossível e num passe de
mágica ela se fizesse possível, e fosse a coisa mais prazerosa do mundo, assim
eu estava me sentindo. Eu era
importante, mas que a minha importância só realmente existia se existissem
outras pessoas, sem elas não haveria o porquê de ser importante.
Olhei para aquele rosto meio
amalucado. Senti-me uma pessoa superior àquele ser que se encontrava perdido
naquele circulo tridimensional vicioso do espelho, querendo me dar um recado prontamente aceito pela
minha mente, a de conseguir aceitar o oposto como proposta de vida, de fazer
das perguntas, encontradas na nossa vida, algo capaz de nos dar as respostas
que precisamos ao deparar com cada obstáculo.
Às vezes é preciso que saibamos
ouvir a nossa própria voz, ou olhar o nosso próprio interior através do rosto
que se encontra dentro de cada um de nós. No silêncio de palavras sem
respostas, um dia virá, com certeza, o que buscamos e, sem o nosso próprio reflexo, não conseguirá
se manter e se fazer para cada um de nós, uma lição para darmos andamento ao
que pretendemos alcançar em nosso viver.
Imaginei tudo, os meus dias a
partir daquele episódio se tornaram bem mais alegres e convincentes, porque eu
já conseguia acreditar em meus próprios esforços, na busca de fazer dos meus
problemas uma escada que me levaria até o ponto mais alto da felicidade. E,
assim, aconteceu, mudei radicalmente o meu viver, acreditando em cada um dos
seres que me cercavam, e melhor, estava me sentindo rejuvenescido pela tamanha
mudança que tomava conta de todo o meu ser. Busquei, em cada um de meus
semelhantes, a força para continuar
acreditando nos meus ideais. O rosto, que se encontrava dentro mim, fizera
então eu crer que era outro ser, muito mais confiante, muito mais cheio de
atitudes, e praticamente o oposto do que um dia eu tinha sonhado para o meu
viver. Ninguém poderia me reconhecer se não fosse o meu físico, franzino, mas
que não precisava da força física para alcançar os objetivos propostos em minha
vida, pois o raciocínio usado de forma correta dispensa a força bruta, e era
esta a proposta que eu tinha abraçado, na tentativa de radicalizar o meu mundo,
que agora se tornava uma meta alcançável devido toda a confiança que havia
depositado nos meus ideais de luta.
UM ROSTO AO MEU REDOR
Depois de todos os
acontecimentos nos dias anteriores, lá estava eu, procurando ser delicado com
as pessoas, tentando compreendê-las, criando novas alternativas e perspectivas
de vida para o meu mundo de ser humano. Aprendi a amar sem me importar com
o receber em troca, pois compreendi o amor. Ele não tem valor. Se eu quisesse
realmente ser feliz, era preciso abrir mão do meu egoísmo excêntrico,
porque até então, eu havia sido uma
pessoa egocêntrica; não dava razão nem
ouvidos aos outros que vinham me propor e nem propunha nada para que as pessoas
tivessem atitudes também diferentes. Comecei a me polir tal qual diamante, pois
ouço muito que, todos nós, seres humanos, somos
pedras preciosas de valor incalculável. Eu queria melhorar a cada novo
amanhecer. A cada novo dia eu teria que ser um novo homem. Não seria fácil. A todo instante me
policiaria para não cometer os mesmos erros
do passado. Então, segui nessa batalha com afinco tornando-me uma pessoa crente em minhas próprias forças, procurando
encontrar o verdadeiro caminho onde
todos nós estamos mas que realmente não caminhamos, por nos sentirmos
estáticos e sem a dinâmica da vida vivida.
Explorava a minha mente para
encontrar tudo. Quanto mais eu buscava,
mais eu tinha para buscar, parece que a
minha cabeça era uma CPU , com
uma diferença, ela tinha sentimentos.
Sentimentos para viver com alegria a minha vida. Tornar-se capaz de
pensar e de agir por conta própria é uma tarefa para os incríveis seres
humanos; eles se sentem deuses, por possuir inteligência super avançada, mas eu
não me sentia assim, apenas possuía a convicção de que poderia conquistar o meu
espaço, através de meus próprios esforços. Para isso acontecer eu precisava de
atitudes realmente eficazes e que não admitiam equívocos apesar de saber que
todos os seres humanos cometem erros admissíveis, mas eu já estava cansado de
errar na minha vida, e mais um erro naquelas circunstâncias poderia colocar
todo o meu projeto de vida por água abaixo. E, então, pensava muito antes de
cada ação praticada pela minha pessoa. Tornei-me capaz de pensar e refletir e,
portanto, a minha vida ganhou novas dimensões
nunca imaginadas, porque quando
se busca um objetivo e se faz um esforço para alcançá-lo, nós realmente
alcançamos, se tivermos a coragem de enfrentarmos todos os problemas vindouros
dessa nossa busca indiscriminada para a realização e concretização de nossos
anseios.
Estava ainda a buscar os meus
horizontes, quando olhei para o meu lado, alguém junto de mim queria falar
comigo, mas eu me sentia tão ocupado com os meus novos sentimentos que nem dava
importância àquele ser, nem percebia se era do sexo masculino ou feminino,
porque não havia reparado no seu semblante. Depois de martelar muito o meu
desejo, ainda utópico, mas, um dia, poderia ser a razão máxima do meu viver,
pois o que se busca nesta vida é o amor e devemos tê-lo para com os outros e,
principalmente, com nós mesmos. Só podemos amar alguém quando esse amor é
sentido por nós. E eu acreditava prontamente.
Novamente olhei para os lados e lá estava ainda aquela criatura querendo
me dizer alguma coisa; parei. Fiquei a olhar aquela figura quase que humana,
digo isso porque ela parecia querer me dizer algo, mas não dizia nada, percebi
que eu estava precisando daquela figura ali, mas não conseguia explicar o
porquê de minha necessidade e da permanência dela ali junto a mim, continuei a
caminhar, às vezes olhando para os lados, para ver se não estava novamente
tendo uma miragem, mas não, o ser parecia muito, mas muito real mesmo, o
problema é que não dizia nada, permanecia impassível, igualmente aquela figura
que havia me aparecido na rua dias atrás, ou mesmo aquele rosto que estava no
espelho. Senti um calafrio por dentro quando comecei a andar e a observar tudo
que aquele ser fazia; aqueles movimentos contorcidos eram os mesmos os quais eu
havia proposto para mim como
sustentáculo do meu próprio viver.
Desta vez eu não estava mais
triste e nem apreensivo, eu já tinha certeza que aquele rosto estava ali, me
dando a certeza de que eu podia caminhar
com mais firmeza. Seguia com os meus passos firmes. O vulto me seguia, parecia
tão real, e quanto mais eu caminhava com ele ali ao lado, mais eu me sentia
fortalecido e confiante naquilo que havia escolhido para o meu viver. Todos os
meus pensamentos eram mais desinibidos, pois eles apareciam na sua volúpia
constante, me dando energia e força, mas uma força dinâmica capaz de me fazer
sentir no mais alto dos patamares humanos; tudo porque eu havia descoberto a
minha verdadeira vocação, a de transmitir alegria aos meus semelhantes mesmo
que estes não pudessem retribuir da mesma forma, mesmo que eles desejassem o contrário
para mim. E continuei a minha caminhada, não queria mais saber do complexo em
minha vida, pois a simplicidade deveria ser a coisa mais importante para o meu
viver, e de todos os seres que acreditam na possibilidade de um amanhã muito
melhor, e eu entendi isso, quando aquele ser misterioso me tomou, e me fez
perceber que o mais importante para nós não é fazermos as coisas certas, é
claro que isto é importante, só que muitas vezes não sabemos qual é a coisa
certa e fazemos a errada, um erro inconsciente, desse que todo e qualquer
mortal comete, mas que há como voltar, ou seja, não adianta nada a gente ter
orgulho de uma coisa se nem sabemos se as pessoas vão entender o porquê desse
orgulho, muitas vezes temos que nos
fechar dentro de uma redoma de sentimentos que poderá se transformar na nossa
única e primordial razão de ser.
A minha vida sofreu uma mudança
radical, digo isso, porque eu já estava agindo de forma completamente oposta
a aquele ser de estrutura misteriosa
antes de aparecer e me fazer refletir sobre todo o meu viver, mas aquilo me
fazia compreender ainda mais a importância de ser um ser mais alegre e
evidentemente transmissor dessa alegria para as outras pessoas. Consegui
sintonizar a antena parabólica dos meus sentimentos, de maneira que não
prejudicasse a imagem das pessoas que estavam à minha volta, e, sem nenhuma
interferência, poderia distribuir as diversas formas de amor às pessoas que eu
sentia, estavam realmente precisando. Naquele momento mágico eu já não via mais
aquele ser ao meu redor, ele deve ter se desintegrado dentro do meu pensamento
e se transformado nas minhas ações, naquele dia tão especial para mim, aquele
ser já era parte de mim, e só entendi quando comecei a refletir sobre todo o
meu viver.
Naqueles dias não estava mais importando
com trabalho, com nada, apenas eu queria colocar um sentido verdadeiro à minha
vida. Distribuía sorrisos, transmitia força de vontade, fortalecia os sentimentos daquelas pessoas
que me procuravam; para mim era a melhor coisa do mundo, estava me sentindo
completamente realizado, e as pessoas só se realizam mesmo, quando conseguem
fazer uma viagem ao fundo do seu próprio ego, tipo aquela que estava terminando
de fazer ali na companhia embriagante e preocupante daquele ser de estrutura
onipresente, que me fizera compreender o verdadeiro valor das pessoas que me
cercam. Ali, estava começando um novo ser, reformulado por espíritos,
fortalecido por sentimentos, e acima de tudo, enfraquecido de orgulho e
descrença. Estava confiante naquilo que buscava como alternativa para a minha
vida, e mostraria para aquele novo ser
dentro de mim, mas sabia que muitos iriam me criticar e jogar charadinhas.
Todos nós precisamos abrir mão de algo em nossa vida para conseguirmos alcançar
os objetivos que traçamos ao longo do nosso viver.
Aquele ser me acompanhava
dentro de mim; ele me fazia ter a força de que necessitava para não fracassar
naquele meu objetivo de vida; passei a conviver com sentimentos de perdão, de
aceitação ao oposto, de compreensão aos sentimentos das pessoas pois todos não
poderiam pensar da mesma forma que eu, de perseverança porque é preciso
perseverar naquilo que buscamos e colocamos como meta para nossa vida, de amor
e felicidade, mas não um amor egocêntrico como aquele que sentia antes, mas um amor
capaz de nos fazer realmente seres humanos feitos por Deus a sua imagem e
semelhança, mesmo sabendo que todas as pessoas já não aceitavam este tipo de
amor porque diziam que ele era antiquado e a sua existência no mundo
contemporâneo era, praticamente, sem sentido. Elas não acreditam que em pleno
Século XXI esse tipo de sentimento ainda existia, ou mesmo, que devia ser
sentido por alguém, e quando aparece alguém o expressando é taxado como louco;
uma pessoa completamente fora dos padrões normais para a sociedade, que só se
contenta em ver aqueles protótipos degradados pela mídia de forma geral, que é
o caso de várias apresentações escandalosas e absurdas que todos os dias se vê
na TV, decapitando todos os laços familiares e tornando as pessoas cada vez mais
alienadas.
Eu não queria ser diferente,
mas gostaria de ser único, porque o que as pessoas iriam pensar a meu respeito
não era coisa para me preocupar naquele momento, mesmo sabendo que a sociedade
influi muito na nossa maneira de ser, mas aquela criatura ali dentro de mim não
me deixava alternativas. Eu teria que batalhar para que as coisas fossem
exatamente daquela forma. Preparei as coisas para fluírem de maneira natural;
fingiria a não existência das pessoas pois elas poderiam atrapalhar meu processo de formação, mesmo sabendo que
seria impossível ignorá-las, mas também não era essa a minha intenção, porque
eu sempre acreditei nas pessoas e encontrava em cada uma algo que precisaria para mim, ou seja, as
pessoas com suas individualidades acabavam de alguma forma nos ofertando coisas
que com certeza precisaríamos para dar razão ao nosso viver e quanto mais negamos a importância das pessoas em nossas
vidas mais elas se tornam presentes, dando dinâmica ao nosso viver.
Naquele dia, voltei para casa
olhei para aquele espelho, estava me sentindo mais suave, mais light, mais dono
de mim e confiante que eu seria a pessoa
capaz de dar ânimo ao meu viver, de fazer dele algo muito melhor, e era esta a
minha proposta, e foi isto que fez eu arregaçar as mangas e ir à luta. Parece
que eu estava numa guerra e em todas as batalhas eu utilizaria uma única arma, o amor aos meus
semelhantes, que se encontrava até então escondido dentro de mim em algum
lugar. Não me iludi e nem fraquejei por causa das dificuldades. Iria enfrentar,
mas me fortaleceria em todos os momentos
da minha vida, para que esta arma tão frágil e ao mesmo tempo tão forte, não se
fizesse por despedaçar no vazio das coisas criadas pelo homem. E o meu otimismo
foi acalentado porque eu sabia também que teria os meus pés no chão, aceitaria
as coisas boas e ruins na vida da gente e que devemos estar preparados para que
elas não venham nos trazer surpresas
desagradáveis, pois quando estamos preparados os acontecimentos podem até nos
fazer sofrer, mas será um sofrimento, muito mais fácil de ser superado.
Continuei então a olhar a minha
imagem no espelho que estava, então, refletindo todo o meu otimismo em relação
a mim mesmo e pensei comigo “você é outra pessoa!”, “você tem agora uma missão,
talvez a mais difícil de todas, a de lançar seu projeto de vida para as outras
pessoas e fazê-las acreditarem que ele é verdadeiro.” E aquilo para mim, foi a
coisa mais importante que eu estava fazendo na minha vida, destruí
completamente aquele ser meio desprezível
dentro de mim, e deixei aquele rosto coberto de sinceridade me dominar e
tomar conta de todo o meu ser.
DESABAFO DE UM JOVEM LOUCO
Meu pensamento havia me
mostrado que a vida sempre vale a pena. Eu tinha certeza absoluta que o meu viver não havia sido em vão. Talvez
tenha cometido erros é verdade, mas se eles foram cometidos era na tentativa de
alcançar o caminho certo e, com certeza, se tivesse que praticá-los da mesma
forma eu faria tudo outra vez. Era a coisa mais previsível pois só bastava olhar
para mim para se ter certeza do que
realmente queria como princípio básico para o meu viver, as pessoas que se
encontravam ao meu redor certamente poderiam ser iguais a mim, mas muitas delas
deveriam ter medo de correr atrás de seus sonhos, ou mesmo de sonhar. Eu sabia
que era necessário sonhar para não ressecar a alma, mas o importante mesmo era
poder sonhar e não deixar esses sonhos se tornarem algo para nos aprisionar
dentro de nós mesmos e, esse, sem dúvida, era o meu maior medo.
Nunca
havia tido tempo para pensar nas realizações de meus sonhos com tanto afinco,
aqueles instantes mágicos fizeram-me viajar para mundos completamente
fantásticos que iam além da minha
imaginação, mas não queria nunca deixar de imaginá-los reais. Queria entrar num mundo real onde tudo
fosse imaginário, e a minha imaginação sempre fértil me fazia crer na
existência de um mundo completamente paralelo ao meu. Era isso que me dava
forças para lutar e buscar a minha verdade. Poderia muito bem ser a verdade de
todas as outras pessoas. Entrei neste mundo que se encontrava à mercê de todos.
Conseguia chegar nele, quem tinha realmente as características básicas de um
ser humano perfeito; então, pensei que eu estava chegando perto da perfeição
pois já me encontrava na porta de entrada
deste mundo, completamente diferente da confusão cotidiana de minha vida.
Eu estava
ali, o mesmo ser humano que buscava dentro de minha diferença, o que realmente
precisava para tornar o meu mundo mais feliz. Tinha convicção de que era
preciso estar sempre questionando os diversos tipos de ângulos em que são
mostradas todas as coisas. E eu estava precisando ficar ali, ter um tempo mais
para comigo mesmo, para não deixar as coisas acontecerem por mero acaso. Era
preciso acreditar na minha essência para que de repente eu viesse a compreender
a minha existência, o porquê de ser uma pessoa diferente das outras e com
buscas fascinantes de um ideal que até então eu nem sabia se existia. Mas não
queria me dar por vencido, teria que mostrar o meu verdadeiro valor para
realmente se ter valor, é como se as pessoas quisessem me seguir por um caminho
que fosse conhecido somente por mim, e de repente a cada momento eu estivesse
mostrando para elas o meu caminho e o meu próprio jeito de caminhar.
Eu não
sabia por que razão suportar todas
aquelas angústias. Fazia de tudo para que o meu fardo fosse um pouco mais leve.
Naquelas circunstâncias, as pessoas já não me aceitavam como alguém normal; eu
teria que reinventar completamente a minha maneira de ser. Mas a vida era assim
mesmo, sempre tentando fazer uma coisa
certa, as pessoas diziam que estava errado. Era quase impossível dizer que eu
seria um ser humano normal, pois depende muito do patamar sobre o qual se
encontram as pessoas quando se faz algo completamente diferente do desejado por
determinado grupo; aquilo seria algo anormal e dentro da anormalidade das
coisas eu queria ser evidentemente mais anormal ainda, pois ser anormal era com
certeza buscar dentro de nós mesmos a força que nos faz necessários. Só consegue
ser diferente quem realmente é diferente e faz a diferença.
Não
estava mais importando sobre o que as pessoas pensariam, queria apenas ter o
meu espaço de reflexão comigo mesmo, ou seja, a vida nunca havia dado-me oportunidade de olhar dentro do meu mundo
e imaginar tudo que poderia. Eu não tinha nada de extraordinário para mostrar;
resolvi simplificar todas as minhas ações; transformá-las naquilo que poderia
realmente dar sentido ao meu viver, mas quanto mais eu tentava, mais eu via que
precisava de atitudes convincentes para poder apaziguar todos os meus dilemas.
Então resolvi acreditar nas pessoas como se estivessem acreditando em mim, só
que sempre com os meus pés bem firmes no chão. Foi aí que percebi que poderia
fazer as pessoas participarem dos meus sonhos sem ter que dar nem uma prova de
minha sanidade mental. Eu estava louco, como diziam as pessoas, mas a minha
loucura era bastante sadia pelo menos para mim, porque eu não estava
prejudicando ninguém, apenas colocando as minhas idéias, que se não eram as
melhores, no pensamento alheio, pelo menos era aquilo que realmente estava me acontecendo.
Por
muitas vezes, errei por insistir nos
meus ideais para com outros; outras
vezes, tive que oferecer o meu rosto para ser esbofeteado a fim de mostrar quem
realmente era o jovem de ideais opostos à maioria das pessoas que me taxavam de
louco só pelo fato de não tentar modificar o pensamento. E o meu pensamento não
era modificado só porque eu sempre tinha
certeza daquilo que queria e, naquele momento, eu precisava viajar ao fundo do
meu ego para não cometer injustiças, que no decorrer de minha vida foram
cometidos à minha frágil e incapacitada pessoa. Eu queria muito mais; gostaria
de que a minha verdade fosse a verdade da maioria das pessoas, e realmente não
era. Tudo porque a gente traça os nossos objetivos e, às vezes, não se tornam
reais, modificando o nosso jeito para que alcancemos, em cada um deles, o
êxito esperado.
Sempre
tentei ser a mesma pessoa, se houve mudanças foram muito pequenas e, para mim,
nem foram percebidas, depois que passei a buscar esse horizonte dentro de mim,
a minha vida se tornou conseqüência daquilo que pretendia para o meu mundo. O
meu universo se via, até então,
dilacerado pela minha própria falta de fé e esperança, mas eu conseguia a cada
minuto melhorar a minha capacidade de ver as coisas e de imaginar um mundo mais
fraterno e mais humano onde as pessoas sempre olharão à frente e não temerão
qualquer tipo de inimigos às suas costas. Estava disposto a traçar os meus objetivos
e fazer deles uma capacidade de ver em cada ser um irmão pois Deus nos fez à
sua imagem e semelhança; entretanto, nós , destruímos essa imagem de igualdade
e nos tornamos mais e mais diferentes.
Sempre eu fechava os meus olhos para imaginar os acontecimentos
e via que o sentido de viver estava nos outros; procurava nos outros uma forma
de alegrar o meu viver; quanto mais eu fitava meus pensamentos nos outros, eu via que precisava me isolar para refletir
sobre a minha vida. E sempre que refletia a minha vida, mais eu via que
precisava da vida dos outros. E isso foi responsável por uma metamorfose louca
de pensamentos oblíquos em minha mente, porque a certeza de que eu precisava de
minhas próprias forças, para chegar a algum lugar, era completamente perdida
quando eu me via fraco com os meus problemas e para muitos pareciam banais. Eu
não conseguia resolvê-los através de meus próprios esforços. Resolvi, então,
refletir sobre tudo e o que poderia fazer para que os meus problemas não
conseguissem me tornar um ser insensível e sem amor.
Eu sabia
que precisava viver para buscar dentro de mim a força que me fazia necessário,
era louco é verdade, mas a minha loucura não deixava com que os meus problemas
fossem deixados de lado, porém a minha preocupação maior não estava mais nos
meus problemas, estava, sim, na maneira, em como eu teria que enfrentá-los para
solucioná-los. Buscava forças dentro do meu pequeno universo, era uma pessoa
completamente desacreditada, não por mim, mas pelos outros, as pessoas gostavam
de ouvir a minha fala, diziam que eu falava bonito, mas realmente não
acreditavam nas minhas propostas de fazer do meu mundo algo muito melhor,
diziam somente que eu era um jovem louco de sentimentos utópicos.
Foram
vários e vários dias nesta busca louca pela minha imagem, talvez a mesma que se
encontrava naquele espelho, só que de forma concreta. Eu não queria que a vida
me trouxesse surpresas desagradáveis.
Tornara-me uma espécie de ser humano que imaginava o certo, mas
precavendo-me do errado. Fazendo isso,
eu certamente sofreria menos, caso as coisas indesejáveis viessem a acontecer e
me fortaleci dentro do meu próprio ser; estava disposto a repassar essa
experiência para as outras pessoas; elas me ouviam, mas não importavam; não
davam ouvidos ao que eu estava falando; diziam que falar é fácil fazer é que
são elas. Ouvia todas as críticas, as mais terríveis. Entretanto estava
disposto a seguir o meu caminho sem me importar com elas. Eu sabia que de
alguma forma elas viriam e, dessa forma, eu poderia ser evidentemente mais
forte.
O jovem
louco, que estava dentro de mim, fez eu
buscar mais força e me tornasse mais humano; não como os outros que só tinham
um pensamento, o de destruir os sonhos e os ideais alheios. Ali estava o
maluco, obcecado pela vida. Um menino que sempre acreditava na possibilidade de
realização dos seus próprios sonhos e a
única pessoa responsável por eles, com certeza,
seria ele. Não abandonava nunca a
chance de mostrar aos outros aquilo que seria de fato o mais importante para os
seres humanos, o amor. Eu não tinha mais medo de me expressar, mas queria
também encontrar pelo menos uma pessoa que fosse igual a mim, mas não
adiantava, pois quanto mais eu procurava, mais eu notava a distância entre mim e o mundo. Ninguém ousaria deixar
escapar o seu grito de liberdade, até mesmo, por não acreditar que a liberdade
simplesmente existia, ou seja, eu estava só, defendendo uma causa e, para a
maioria das pessoas, era perdida, mas eu acreditava nelas e fazia delas o meu
ponto de partida em busca de dias melhores e, com certeza, viriam e
modificariam a minha vida.
Andava em
meio a multidões enfurecidas, umas que eu via na TV, outras se encontravam ao meu redor; algumas estavam
dentro da minha mente martelando,
obscurecendo os meus pensamentos. Eu me sentia só, fui chamado de
rebelde sem causa, tudo porque não acreditavam que eu, poderia aos poucos,
transformar o meu mundo; queria que as pessoas encontrassem a sensibilidade de
ver em cada ser, um irmão; a minha vida
estava, ali, estraçalhada pelos seres da
minha própria sociedade. Eu, nessas
circunstâncias, era um ser completamente alienado por causa de tantos
pensamentos ocultos, digo assim porque não queria que as pessoas me vissem
naquele flagelo e, às vezes, tinha que esconder o meu próprio rosto para que as
pessoas não vissem meu desespero diante
das falcatruas da sociedade.
Eu
precisava do amor e sabia que só ele seria responsável pela permanência humana
na face do planeta terra, sem ele, certamente os homens se extingüiriam, ou
seja, nós estávamos desaparecendo aos poucos, nossa existência estava aos
poucos sendo decapitada. Via a aceleração do avanço tecnológico como uma
ferramenta retrocedente do progresso humano, quanto mais o homem descobria as
coisas, mais pensava que era Deus, e nessas brincadeiras de ser Deus, ele se
tornou perdido dentro do seu próprio espaço e aquilo estava me preocupando
pois, mesmo eu tendo um pensamento oposto, não tinha como não ser um deles. Aos
poucos estava vendo o outro me destruir e se destruir. Era como uma bola
arremessada na parede, sempre resvalava em algum lugar, mudando toda a sua
trajetória. Eu me sentia inútil por não poder fazer nada; era apenas um pequeno
grão de areia diante de toda estrutura terrestre, mas eu não podia me entregar
e nem desistir de ser eu; acreditava que aquilo deveria e poderia ser mudado,
arregacei as mangas e fui novamente à luta, com a arma mais poderosa que
poderia existir no universo cristão, a arte de amar.
OS IDEAIS DE UM JOVEM LOUCO
Era
fantástico o meu mundo. Tudo acontecia, eu nem conseguia explicar. Vivia a
tomar decisões comprobatórias as quais
me efetivassem como ser humano, tão cheio de amor e tão acreditado nos
seus ideais. Decidi que a minha vida deveria partir de um princípio básico, o
amor; mas um amor capaz de fazer-me
entregar sem pedir nada em troca, ou seja, um amor que não fosse egoísta, algo
que poderia me mostrar a capacidade de sonhar, mesmo estando acordado. Eu
imaginava um mundo diferente, sem guerras, sem violências, onde o amor pudesse
destruir todos os laços de ódio que poderiam existir entre os seres humanos. Só de pensar, se alguma coisa,
dentro do meu pensamento, pudesse dar errado, eu já me sentia revirar por
dentro. Sentia-me machucado e sempre
fazia forças para que a esperança não viesse a morrer. Tudo porque eu
acreditava na possibilidade de um mundo mais fraterno e mais humano, onde as pessoas pudessem
caminhar olhando fixo para frente sem temer algum inimigo às suas costas. É uma
pena que as pessoas olhavam para mim, como se eu estivesse delirando, é como se
a minha bandeira fosse hasteada de forma
não representar realmente aquilo que deveria representar, ou seja, era
como se eu acreditasse em alguma coisa que dificilmente pudesse acontecer.
O jovem,
que estava dentro de mim, tinha ideais completamente opostos à maioria dos
outros da minha idade, por isso mesmo em expeliram do meio social, fiquei à
margem de uma sociedade que nem sequer acreditava que eu pudesse existir, mas
eu continuaria com o meu sonho, o de
fazer com que as minhas atitudes fossem levadas até as últimas conseqüências do
desenvolvimento humano. Eu acreditava nos meus ideais, mas precisava fazer as pessoas
acreditarem que eles eram verdadeiros. Não era da minha alçada desistir
dos meus sonhos e sempre me esforçava para que as pessoas também não
desistissem dos seus. Eu era uma pessoa irremediavelmente sonhadora, porque
tinha dentro de mim esperanças de tornar cada um, meu irmão. Tentava de todas
as formas agir pois meus sonhos não podiam se despedaçar sobre uma parede de
concreto, mas, certamente, esse concreto que me separava de todos os meus
semelhantes fosse esmigalhado a partículas, quase imperceptíveis a olho nu.
A vida
havia me mostrado praticamente tudo, mas
o pouco que faltava para eu compreender era mais um motivo para encarar
com muita seriedade todos os obstáculos como prova de fogo e tornaria parte de
todo o meu ser. Vivia massacrado dentro do meu próprio espaço. Ninguém ousaria
dar ouvidos às minhas propostas de fazer deste mundo um lugar digno para se
viver a vida em paz, a balbúrdia em que se encontrava o meu universo era a
mesma em que se encontrava a maioria das pessoas, só que elas já haviam se
acostumado com aquilo, para elas o sofrimento fazia parte da vida e teriam que
viver naquele eterno sofrimento. Era completamente contraditório a tudo isso,
fazia as pessoas, às vezes, se irritarem pelas minhas propostas e buscas quase
utópicas. Eu acreditava plenamente, em todos acontecimentos e, por isso, lutava
de todas as formas para não abandonar a face do verdadeiro amor, só através
dele, um dia, alcançarei os meus objetivos.
Era
praticamente impossível não ver as pessoas se lamentando da sorte, mas também
não queria que elas vivessem assim por toda a vida, por isso pregava a face do
amor fraterno, uma espécie de amor capaz
de engrandecer toda a trajetória humana. Vivia praticando redundâncias
necessárias à minha própria existência, teria que repetir o mesmo ritual todos
os dias pois caso contrário não seria capaz de acreditar nos meus próprios
ideais. Via friamente os meus sonhos sendo, às vezes, despedaçados por meus
próprios irmãos, mas não queria abandonar tudo aquilo, que eu buscava, para eu
ser um ser completamente feliz. É claro,
a felicidade, para mim, era coisa passageira, mas deveria aproveitar os
momentos mágicos e fazê-la ser eterna,
pelo menos, dentro da minha mente. E foi assim que eu consegui modificar tantas
outras coisas dentro de mim, aproveitei cada instante da felicidade
e fui juntando cada um deles até formar a minha eternidade.
Fui
tentando mostrar para as pessoas um mundo completamente oposto do que elas viam, mas nada adiantava,
porque por mais que eu falasse, elas me revelavam a sua ira pelo mundo, quanto
mais eu pregava o amor, mais eu via que elas sentiam ódio; quanto eu mais
falava de esperança, mais elas se viam desacreditadas, quanto mais eu buscava
soluções, mais elas me apresentavam problemas, quanto mais eu tentava expor o
que estava sentindo, mais elas se distanciavam de mim, quanto mais alternativas
eu apresentava, mais sem alternativas elas se viam, quanto mais expunha minhas
idéias, mais sem princípios elas se mostravam, quanto mais eu me mostrava
sincero, mais eu encontrava desonestidade nas pessoas, quanto mais segredos
fossem desvendados mais mistérios seriam oferecidos para serem estudados e
decifrados. Era uma pessoa de ideais fortes, mas o meu ideal maior não me
pertencia, estava em algum lugar que eu não tinha como encontrar, pois não
dependia somente de mim, mas da maneira como as pessoas pudessem agir quando
lhes fossem propostos.
Não
queria fazer as pessoas desacreditarem nas minhas propostas, mas teria que
reformulá-las de forma que quando eu as
repassasse, não viessem causar transtornos na maneira de ser tanto minha como
das outras pessoas. A vida já tinha me oferecido praticamente tudo; estava
buscando uma certeza de o mundo ser
evidentemente muito melhor. Não era minha intenção intrometer de forma
demasiada na vida do meu irmão, mas também não queria vê-lo praticando somente
as coisas erradas, que ele achava serem certas. Eu tinha que fazer alguma coisa
em prol da vida e minha vida se resumia naquele exato momento em instantes de
renovação, de retorno aos objetivos que haviam sido traçados e designados por
mim como iniciativa de vida. Na tentativa de dinamizar o meu pensamento,
buscava palavras de conforto, mas percebia que enquanto eu falava as palavras
se perdiam ao vento, resolvi então repassá-las primeiramente para o papel e
mostrá-las para as pessoas. Elas liam e
achavam-nas super abstratas e todas mentirosas, por ser o oposto de tudo que
elas viviam, por ser o que eu pensava a respeito delas, e por não ter nada ver
com a prática de vida de cada uma delas. Eu tinha certeza de que é difícil as pessoas aceitarem os seus equívocos,
mas eu poderia, através de seus equívocos, mostrar-lhes tudo que é, e poderia
ser certo.
Quanto
mais eu tentava expor minhas idéias, mais eu sentia que precisaria de novas
atitudes em relação a mim e os outros seres humanos, porque quando se busca algo
aplausível em nossas vidas, mais vemos e precisamos de novas buscas, e essas
buscas certamente nos levarão a novas conquistas. Pensando desta forma, eu já
estava vendo que seria impossível retroceder a minha idéia em prol de um mundo
mais justo, mais fraterno e mais humano, e, quem sabe, as pessoas, um dia,
poderiam caminhar sem medo de, realmente,
serem feliz, mesmo olhando para mim como se eu estivesse querendo lhes
tirar toda a essência que existia dentro de cada um, ou seja, o jovem louco que
estava dentro de mim, poderia destruir as coisas mais importantes de uma
sociedade podre e desacreditada em seus próprios ideais. Era esta a minha
intenção, mas as pessoas que me cercavam diziam que eu estava desqualificando
as coisas mais importantes na vida de cada um delas: a cobiça, o poder e a
corrupção, pois até então elas tinham feito de tudo para chegarem lá, brigaram
entre si e, às vezes, com os seus próprios meios de sobrevivência, construíam
armas de morte, e davam fim aos seus semelhantes.
Não
adiantava nada eu tentar falar de um mundo diferente, porque eles não queriam
me ouvir, mesmo o meu grito sendo para
valer, não haveria possibilidades de convencer
todos que estavam ao meu redor,
mas essa era a minha intenção. Algo praticamente impossível dentro de uma
sociedade capitalista sem o mínimo de escrúpulos. Eu já nem sabia o que
realmente era, só porque a maioria esmagadora da sociedade, nem notava a minha
importância, eu seria como uma gravura estampada numa parede imóvel que
permanece imóvel até que as sujeiras do dia-a-dia recaiam sobre ela e a faça
aos poucos desintegrar. Assim, eu estava me sentindo uma pessoa que não possuía
respaldo diante da sociedade, tudo porque ela não acreditava na minha
existência; mesmo assim, eu nem me importava, sabia que estava no caminho certo
e que somente através da minha persistência é que realmente chegaria a algum
lugar.
Vivia
dentro de uma comunidade sedenta. Sedenta de amor, mas que só tinha em seu
rosto a face do ódio. Sedenta de paz mas que só procurava meios de viver dentro
da violência. Sedenta de salvação mas que não acreditava realmente que existia
um ser supremo chamado Deus. Sedenta de alegria mas não possuía meios de desintegrar a tristeza.
Sedenta de soluções para os seus problemas, mas
não sabia buscar em sua vida um minuto para reflexão. Essa sociedade era
a mesma da qual eu fazia parte, mas era a mesma também que eu criticava todos
os dias, por não saber acreditar nas suas próprias forças e destruía, de forma suntuosa, todos os seus
ideais. Olhava para o meu rosto, no espelho, para ver se havia alguma
partícula que refletisse a real
sociedade.
Eu era um
ser desacreditado, mas, depois, consegui
me aproximar da realidade que queria, procurei patamares diferentes para me
mostrar o mais belo dos pensamentos humanos, o ato de refletir e poder perdoar.
É claro, eu já sabia qual seria o pensamento das pessoas referente a mim. Mas
eu também não poderia desistir de tentar alcançar os meus objetivos traçados,
mesmo antes de eu me tornar o louco varrido que todos diziam. Pois a minha
sensibilidade estava mais aflorada do que qualquer coisa naquele instante.
Então parti em busca de encontrar em cada pessoa a sua essência, ou seja, não
estava importando com o pensamento dos outros; estava, sim, tentando facilitar
a cada uma delas aquilo que tinham de
melhor. Era a minha principal missão, acolher e fazer de cada ser humano, uma
pessoa crédula em si mesma, mas o pior
de tudo, na maioria das vezes, eu sempre ganhava não como respostas às minhas
iniciativas. As pessoas já não sabiam nem porque isto acontecia, mas eu encontrei a resposta necessária, ou melhor
dizendo, eu compreendia o porquê de elas agirem dessa forma. A vida delas não
era muito diferente da minha vida, até porque eu aprendera muito com a convivência e por ser uma pessoa
bastante sensível. De tanto sofrimento, por parte delas, tornaram-se
insensíveis e sem esperança; de tanto apanharem se autoflagelavam, quando não
possuíam os seus castigos. Na tentativa de solucionar os seus problemas, inventavam-nos
quando não possuíam. Assim eu as observava, sempre com a mesma vontade e
capacidade de vê-las como realmente eram.
Fiz
tantos sacrifícios pela a vida que eu sempre estava a buscar, mas percebi,
precisava fazer muito mais, não adiantava o meu pensamento querer fazer as
coisas certas, se minhas ações não estavam correspondendo para que eu acertasse
e fui, então, traçando as ações necessárias para a minha vida, sem perder o sentido. Já havia
prosseguido até a metade do caminho, imaginei
o percurso menos árduo, mas
quanto mais eu caminhava, mais via que estava difícil caminhar, e mais pesada
se tornavam as minhas decisões. Eu não
estava com medo de enfrentar os problemas, estava, sim, com receio de não os
possuí-los. Eu estava sendo um ser humano capaz de buscar, através do meu
próprio reflexo, as respostas até então vagas a todas as minhas perguntas. Um
louco famigerado e obstinado por justiça e pelo dom de amar cada ser como
irmão.
Viajava
por estradas inimagináveis, não queria retroceder no tempo mas precisava de
algumas coisas que teimavam em permanecer no meu passado, e, com certeza, fariam muita falta no meu
futuro. Era algo necessário. Talvez em
determinado momento de minha vida teria sido desnecessário. Para explicar
melhor, seria uma coisa que eu estava precisando, estava guardada e voltaria a utilizá-la. A minha vida se
resumia a isso, era realmente muito pouco, para um jovem de pensamentos loucos.
Sempre imaginava ajudar o mundo que sempre o desacreditava, tudo porque a minha
maneira de pensar fosse completamente o oposto dos outros seres de minha mesma
espécie. Vivia tentando encontrar um alguém que tivesse os mesmos pensamentos
e, ideais. A vida
nunca me ofereceu chances para encontrar essa pessoa tão necessária em meu
viver. Eu teria que continuar a minha trajetória cuja verdadeira imagem não fosse mais
confundida com aquela, descaracterizada,
naquele espelho, naquela bela manhã de setembro.
CAMUFLAGEM
O meu mundo era desfacelado
por causa dos meus pensamentos utópicos em prol de uma verdade que
teimava em não existir. Daí, então, iniciei um meio de me ver livre dos meus
pensamentos os quais eu julgava serem utópicos e como eu não tinha alternativa,
resolvi camuflá-los por pouco tempo. A verdade a qual tanto pregava não
passava, até então, de um sonho super fantástico. Eu me tornei uma espécie de
ser que não conseguia acreditar na verdade, por achar as pessoas dissimuladas
e, realmente, não eram, e até onde eu me entendo por gente, continuam não
sendo. Estava disposto a mudar todas as minhas expectativas de vida, mas para
isso precisaria desenvolver hábitos completamente diferentes daqueles acostumados a praticar.
Não sabia como fazer as pessoas
acreditarem que eu poderia ser diferente, mas dentro do meu espaço. Seria quase
impossível me tornar diferente sem receber críticas por todos os lados, ou
seja, se eu realizasse uma atividade diferente poderia estar perdendo a minha
identidade; então, a solução encontrada, por mim, foi a de fazer as coisas
diferentes e me esconder dentro de mim mesmo.
Isto não estava me fazendo bem; sentia-me mal quando tentava camuflar a minha própria
realidade, mas eu sabia que aquilo seria coisa de momento e de alguma forma, em algum lugar, precisaria fazer o meu mundo ser muito
melhor, mesmo que,por alguns momentos,
minha vida se tornasse uma incógnita de
sentenças matemáticas e não houvesse realmente soluções para atender todas as
minhas angústias.
A minha vida ficou repleta de
caminhos, mas nenhum deles me fez crer na possibilidade de modificação do meu
modo de ser, porém eu não queria mudar porque precisava pensar diferente para
não deixar que a monotonia cotidiana me fizesse um ser redundante e sem
princípios, ou seja, não gostaria da minha pessoa descaracterizada, apesar de pensar que o ser
humano é o produto do meio onde vive; mas, até então, eu seria uma grata ou
ingrata exceção, pois acreditar na possibilidade de um mundo melhor é possível,
contudo fazer alguma coisa para transformar o nosso mundo, em algo melhor, é
quase impossível, ou melhor dizendo, as pessoas podem até dizer o que pensam,
mas realmente não sentem, e se não sentem não podem fazer nada de melhor. O
sentimento para mim seria então a base de transformação do nosso universo tanto
físico, como espiritual, a gente só pode fazer algo com amor se realmente
sentirmos amor dentro do coração e se essa é a nossa sina, é melhor que
saibamos entender o espaço existente entre o ser humano e sua capacidade de
pensar e amar o seu próximo como a si mesmo.
A vida me deu tantas
oportunidades de reflexão, não gostaria de fugir dos meus ideais, queria
mostrá-los às pessoas e, pelo menos, fazê-las acreditar que eles eram
verdadeiros, mas as minhas palavras se perdiam no vento, eu estava cercado de
sentimentos miseráveis por todos os lados. Os seres humanos carregavam consigo
todas as espécies possíveis de falsidade, e, às vezes, eu tinha que me
distorcer para entrar no mundo vazio das pessoas, pois essa seria a forma de
conseguir me encontrar com cada uma delas;
estar ali, fazendo o que elas fazem, me tornando uma delas, mesmo não
aprovando suas atitudes em relação aos outros seres de mesma espécie. Eu teria
que conviver com cada pessoa, acreditando nos meus ideais, e mostrando a
riqueza de meus pensamentos, mas teria que fazer isso sem prejudicar o meu
relacionamento com as demais pessoas e sem apregoar as minhas verdades, porque
acreditava no sentimento de cada pessoa, mesmo sendo elas um amontoado de
equívocos.
Não era possível viajar ao fundo
de cada ser humano, mas através da conversa bem sincera, é possível arrancar
verdades inculcadas na mente vazia de cada um. Estava sendo uma espécie de
psicólogo em busca de uma psicologia q
para eu
entender o porquê de tantas atitudes mesquinhas por parte das pessoas
que se encontravam fechadas dentro do meu universo de ilusões. Resolvi então
modificar um pouco minha atitude e a partir daquele momento decidi pregar o amor e elevá-lo à categoria de
substância essencial e existencial necessária para o estudo do nosso bom viver.
Foi fazendo isso que eu entendi a minha verdadeira vocação. Eu precisava
acreditar e me propunha a fazer, ou seja, tudo que se pretende na vida se alcança quando realmente acreditamos. Eu
já estava repleto de idéias inovadoras capazes de não me deixar sozinho, a lutar por
um sonho no qual eu acreditava que um
dia seria real.
Eu não me importava com que os outros diriam,
estava apenas preocupado em receber o máximo possível de adesões às minhas
propostas. O jovem, dentro de mim, não me deixava quieto, queria dominar as
atitudes necessárias para manipular as pessoas, mas uma manipulação saudável que
refletisse sobre os rumos de suas próprias vidas. É claro, eu acreditava
nos meus ideais, também pudera, havia passado grande parte da minha vida em
função dessa procura louca e indiscriminada da minha imagem. Eu sabia que a
minha vitória dependeria de como enfrentar as dificuldades, posteriores, em minha vida. Fui objetivando
os meus impulsos. Cada dia eu me tornava mais forte, quanto menos esperava,
havia construído uma fortaleza sentimental ao meu redor. Ela fazia eu conseguir enfrentar, com mais
superioridade, tudo que eu não conseguia através de minha própria coragem.
Atravessei por barreiras quase
que infindáveis. Estava disposto a buscar horizontes mais reluzentes daqueles existentes a minha
frente e as próprias barreiras, que antes serviram de obstáculos, agora se
tornaram partes de uma trajetória de vida quase
abominada pelas pessoas, ou seja, elas não acreditavam em meus impulsos
e nem naquilo que estava dentro de mim. Eu precisava de alguma coisa
enaltecedora capaz de me tornar pelo menos um pouco livre, algo desprendido dos
laços de ignorância que me separava dos outros seres. Busquei intensamente o
meu espaço, não desisti de estar dentro do meu próprio ego. As pessoas se viram
incapacitadas de me mostrar uma realidade
já exposta no semblante de cada
ser humano que conseguia passar por mim. Resolvi por conta própria estreitar os
laços de amizade entre todos os seres
humanos, pois deles dependeria a minha própria felicidade.
Apesar de tantas coisas
diferentes que eu via, percebi estar faltando algo. Um mundo de fantasias
poderia surgir ao lado esquerdo do meu peito, ali, onde se encontra o coração,
se é que ele seja responsável realmente por nossos sentimentos, pois eu já
estava completamente transtornado em minhas atitudes. Queria que cada uma delas
objetivasse o que realmente seria o meu próprio viver. Bastou eu buscar respostas às minhas perguntas, para
que elas viessem e causassem um tumulto bastante acelerado em minha mente, pois
se encontrava bastante estressada, pelo tamanho de informações que haviam sido
armazenadas nela. Queria poder entregar-me a um amor que eu nem sabia de sua
existência; queria que as pessoas refletissem os seus movimentos em prol de uma
cultura sentimental, onde todos pudessem entender todos e a vida de cada um
estivesse correlacionada com cada um. Todos os seres humanos precisavam de
afeto, disso eu tinha certeza, mas não entendia porque se escondiam dentro de
seus próprios interiores e se faziam insensíveis diante de tantos sentimentos
belos que havia ao redor de cada um.
Eu não me importava com o que
aconteceria, queria apenas viver o momento presente, essa era a proposta de
todo ser que humano, mas que não sabia
realmente viver. Era absolutamente impossível não pensar em crescer naquele
momento tão importante da minha vida, queria exteriorizar os meus sentimentos e
fazer as pessoas satisfeitas com o que
elas eram ou não, mas a minha mente não aceitava algumas atitudes que teriam
sido praticadas por elas no decorrer da minha própria vida. Eu estava querendo
transformar os meus pensamentos e, assim de maneira mútua, transformar um pouco
os sentimentos dos outros. Queria fazer de cada momento uma soma de instantes
que poderiam, sem nenhuma sombra de dúvidas, formar a minha eternidade, depois
de tudo que havia passado até aquele
pequeníssimo intervalo de tempo, entre o real e o imaginário, pois, até então,
tudo me era abstrato, teria que pensar para concretizar alguns objetivos
básicos que um dia teria martelado a minha mente, fazendo-me acreditar na
possibilidade de um mundo muito, muito
mais humano.
Havia um espaço de conquista
entre os homens e sua realidade Este espaço perseguia não só a mim, mas a todo
ser humano; ninguém possuía métodos eficazes para destrinchá-lo e,
evidenciá-lo. Eu havia me proposto a
isso, queria ser aceito pelas pessoas. Nessa tentativa camuflar-me para sentir tudo que cada uma
das pessoas sentiam, ou seja, precisava entrar no mundo de cada uma para
entender o porquê de tantas loucuras, de tantos sentimento sórdidos e tanta
falta de consciência de uns para com os outros. E ,Bfoi assim, introduzi-me
dentro de cada um, tornei-me um ser de muita sensibilidade, pois o que eu
estava sentindo não era só coisa de mim, mas de cada um daqueles que me
cercavam. Eu sabia que possuía uma missão, mas uma missão capaz de me elevar ao
mais alto dos patamares humanos; uma missão capaz de me fazer humano, pois os
outros seres que estavam ao meu redor, não eram humanos, pois não agiam como
humanos, não sentiam como humanos, não viviam como humanos, era uma espécie de
animal, daqueles mais indesejáveis, no
zoológico da vida, porque não se via nos outros “bichos” o que se via nos famigerados
seres humanos, portanto conseguiam transformar os seus próprios meios de
sobrevivência em terríveis armas de morte e conseguiam aos poucos buscar a sua
própria extinção.
Os machados, as foices, as
facas, os cutelos, alavancas, picaretas, automóveis e vários outros materiais
que serviriam para facilitar a vida dos seres humanos, estavam aos poucos se
transformando em horríveis armas que tiravam sem piedade a vida dos outros
irmãos, através de sangrentas batalhas por um pedaço de chão, por uma busca indiscriminada
pelo progresso ou por pura banalidade, só pelo prazer de ver a água vermelha
que nasce da veia de cada um sendo derramada no solo sagrado da nossa
inconsciência nata. Às vezes, eu me estremecia todo só de imaginar tanta
crueldade, tanta obstinação por um poder, que nem sequer valia a pena, pois eu
tinha certeza, o poder não valia nada se
não conseguíssemos estar de bem com o nosso próprio interior. Eu era assim,
diferente, só que eu não tinha coragem de falar para as pessoas, tinha somente
que fingir ser uma delas, mesmo não aprovando nenhuma das atitudes praticadas
por todos os meus irmãos. Eu tinha a ingrata obrigação de dizer amém e ser
cúmplice de todos os atos impensados
daqueles que estavam à minha volta , porque uma andorinha só não faz
verão e a sociedade me cobrava uma postura dentro dos padrões “normais”, e ser
normal naquelas circunstâncias era aceitar o pensamento de todos como verdade
única, apesar de que, por dentro, eu me remoia, apenas por acreditar nos meus
ideais e pensava comigo que um dia eles
seriam aceitos como mais uma alternativa de vida para todos os seres humanos.
Eu possuía uma convicção de que
a vida poderia ser dura do jeito que fosse, mas de qualquer forma eu teria que
vivê-la, ou seja, não adiantava nada eu me esconder nas sombras dos outros para
tentar abrandar o calor do sol, porque de qualquer forma eu sentiria o calor
humano a me queimar e a esquentar o meu triste e dolorido viver. Estava
tentando me afirmar e ser firme em minhas decisões, e, sendo verdadeiro, as
pessoas estavam recriminando meus atos.
Eu não me importava, estava querendo modificar e modificar de uma forma global
todo e qualquer tipo de ambição humana; para isso eu precisava começar a ser
gente, a respeitar as individualidades de cada um, a estar disposto a camuflar
a minha própria realidade para transformar outras realidades. Então, fui à luta
pela força extraordinária que havia dentro de mim; aos poucos estava
conseguindo o crédito necessário para
colocar o meu maravilhoso projeto de vida em ação.
O
CAMINHO A SEGUIR
O jovem
que ainda permanecia em mim, não queria entregar os pontos, sabia da
necessidade de ser forte em busca dos meus objetivos, não era da mesma forma
dos outros e por isso recebia críticas terríveis, denegriam a minha imagem,
tentavam me impor características que eu não possuía, até me chamavam de mole
ou coisa parecida, apenas porque eu pensava diferente deles e aquilo estava
fora dos padrões normais de um garoto da minha época. Mas eu me sentia bem
sendo diferente, fazia as coisas de acordo com a minha consciência, e se os
colegas quisessem ser meus amigos teriam que me aceitar daquela forma pois eu
achava que as minhas diferenças eram minhas e não tinham nada a ver com o meu
relacionamento com as pessoas do meu
cotidiano. E consegui sobreviver entre os viciados sem possuir nenhum tipo de
vício, pois a maioria dos meus amigos eram cachaceiros, pinguços, bebiam tanto
que aprontavam em todos os locais que passavam, mas eu não tinha vontade de ser
do tipo deles, queria criar uma imagem diferente para que os jovens pudessem
trilhar, eu teria que ser então uma espécie de espelho, não poderia cometer
nenhum equívoco, porque para um modelo a seguir eu pensava ser no mínimo perfeito, mesmo sabendo não haver como ser verdadeiramente perfeito.
Eu estava disposto a me sacrificar
na busca daquilo que eu pretendia. Comecei então a falar de um amor puro, a
pregar esse amor como se ele fosse a coisa mais estupenda do mundo, e realmente
falando, ele era. Comecei a pregar esse amor para as pessoas que muitas vezes
sorriam na minha cara, me chamando de jovem antiquado, ultrapassado, fora da
realidade, só que eu não importava com o que elas falavam, estava disposto a
seguir sempre em frente. Aquilo seria a afirmação de tudo que eu realmente
queria, apesar de estar convivendo no meio das pessoas totalmente viciadas, em
álcool, fumo e outros tipos de drogas, mesmo eu me sentindo um deles, tendo
toda a oportunidade de seguir pelo caminho mais fácil, eu não me vi entregue a
nenhum desses vícios. O meu único vício que me perseguia era o de poder ajudar
o meu semelhante a crescer, a encontrar a sua dignidade, que até então nem eu
sabia que existia. Mas sabia que as respostas apareceriam aos poucos, me
mostrando toda a capacidade encontrada
no meu corpo franzino; era uma minúscula partícula da humanidade; não poderia
ajudar muita coisa, mas também sabia que eu não poderia deixar os outros
pensarem por mim, a minha criatividade aflorava e eu tinha a obrigação de
conquistar o meu espaço, da minha maneira e não da maneira dos outros.
Sabia que o meu caminho seria muito
árduo por ter poucas pessoas para caminhar comigo; eu tinha no meu pensamento a
convicção do melhor para mim e para os
outros, e sabia que as pessoas, ao meu redor, não possuíam a lucidez necessária
para chegar a esse senso crítico que eu havia chegado até então. Apesar de não
entender nada de relacionamento intrapessoal, eu estava realizando, naquele
momento, uma atividade de correção da minha relação com o meu semelhante,
apesar de que ele não era tão semelhante assim. Eu propus para mim mesmo, eu seria a pessoa que pregaria o amor, um
amor verdadeiro de um ser humano pela a sua própria humanidade. Eu não tinha a
coragem necessária para tanto, teria primeiramente que fazer uma viagem
ilusória para dentro de mim, para depois tirar as conclusões pertinentes à
minha escolha. Estava escoltado por anjos e me davam força naquilo que eu
buscava. Eles não me deixaram nunca fracassar e quando cometia alguns deslizes,
lá estavam eles me tirando do chão e me fazendo acreditar no meu próprio erro
e dando sempre um empurrão para que o
meu fraquejar não me fizesse parar totalmente.
O jovem
de ideais fortes estava preste a enlouquecer o mundo com suas idéias
praticamente utópicas, por parte das pessoas que não acreditavam. E se faziam
muitas vezes de desinteressadas por pensar que o mundo não pudesse oferecer o
que estava sendo defendido por minha
pessoa. Depois de muitas desavenças e falta de sintonia com as pessoas, resolvi
então mudar o meu discurso para que as pessoas pudessem me ouvir e acreditar
nas minhas propostas. De pessoa descrente, passei a crer que haveria alguma
forma de mostrar a minha própria realidade; de pessoa calada, resolvi lançar
meu grito de liberdade ao infinito e para as pessoas presas a alguma coisa, sendo vítimas
intensas da opressão e da falta de amor ao próximo, eu queria de alguma forma
não era nem fazer história, mas que as pessoas pudessem ter um ponto de referência
para aquilo que buscavam em suas vidas. A minha vontade de ver o meu irmão
crescer aumentou muito. Consegui implantar dentro de mim todas as mudanças
necessárias para que a minha vida não se tornasse sem sentido, ajuntei o que eu
tinha de melhor em mim e fui à luta com as minhas únicas mas poderosas armas, o
amor dentro de mim e a força de vontade
em superar cada obstáculo colocado em
minha vida.
Sai em busca da realização da minha proposta de
vida, se não era a melhor pelo menos era
a almejada, e a perseguiria até a sua
concretização, que eu sempre imaginava à minha frente. Na minha caminhada
sempre via irmãos sem coragem, desanimados com alguma coisa, sem fé, sem
esperança e até sem vontade de viver, e o que poderia eu, aquele ser de
estrutura esquelética, oferecer para todas aquelas pessoas que se encontravam
no meu caminho? Pois se todos olhassem bem, não poderia oferecer muita coisa,
até porque se alguma delas se rebelassem contra mim eu seria estilhaçado a
fragmentos tão minúsculos que seria impossível remontar-me. Mas isso não era
suficiente para eu desanimar em passar a minha teoria que tinha muito a ver com a prática cotidiana das
pessoas. Então me qualifiquei e fiquei uma espécie de especialista em
sentimentos alheios, ou seja, compreendia mais dos sentimentos dos outros do
que os meus próprios sentimentos. Era mais importante para mim, estudar e
entender sobre o que os outros sentiam, pois era a minha proposta de vida, era
a escolha que eu havia feito, uma busca nos outros para entender a minha
imagem, como se fosse a
minha própria pessoa.
É claro que eu estava ciente, o
mundo precisaria de mim, mas eu
precisaria muito mais dele, pois se o meu relacionamento com as pessoas não
fosse capaz de me elevar à categoria de ser humano, eu não poderia ser tratado
como tal. Era preciso me adequar ao mundo das pessoas para depois ser
compreendido por elas, eu teria de fazer
as pessoas, à minha volta, acreditassem na proposta de vida que eu
tinha, não só para mim, mas aquela que eu escolhi e, com certeza, me faria cada vez mais
distanciar dos outros seres que evidentemente seriam como eu, humano em
existência, mas diferentes por serem desumanos em essência. Aquilo era o meu
pensamento, um pedaço da minha consciência, sabia também que o tempo poderia
ser um aliado para o sucesso ou fracasso de minhas atividades relativas a cada
etapa do meu projeto de vida e o maior projeto para mim, era o de satisfazer as
pessoas e mostrar a cada uma qual seria o seu caminho a seguir.
Abandonei muitas coisas para
demonstrar aquilo que eu precisava para as pessoas compreender realmente, de
forma clara, qual seria o objetivo de traçar tantos planos loucos na minha
mente vã. Distribui minhas palavras, também loucas, às pessoas, às vezes
faladas, às vezes escritas, mas sempre de forma concreta, a não ter um sentido
duplo, era um jovem, mas tinha a convicção de que nem tudo podia
ser certo para as pessoas, mas era o que realmente eu queria e era certo
para mim. Tinha muita firmeza naquilo que eu expressava, e quando não possuía a
certeza, ficava sem dizer nada, pois também não gostava de ficar no achismo,
porque a vida havia me ensinado e a
gente não pode possuir meio termo, ou a gente é ou deixa de ser, quando nós
começamos a caminhar, nós não podemos parar no meio do caminho antes de
alcançar os nossos objetivos, pois quando paramos estamos regressando ao nosso
próprio ponto de partida, daí é quase impossível a gente ter forças para
começar de novo quando isso acontece.
O caminho escolhido por mim, eu tinha certeza que não era o melhor, mas
era o único e poderia me levar ao meu objetivo, assim é o caminho de várias
pessoas. Ninguém possui um único caminho para seguir, todos nós possuímos uma
diversidade de estradas, mas somente uma é capaz de nos levar aonde realmente
queremos chegar. Muitas pessoas enveredam seus caminhos, colocando dificuldades
para nem tentarem chegar aos seus objetivos, talvez por terem medo ou mesmo
porque realmente não possuem objetivos definidos, eu não era desse tipo de
pessoa, gostaria de ser um exemplo de ser humano, de demonstrar através de
minhas ações o que sinceramente queria para mim e para minha vida. Trilhei com
fé o caminho que eu tinha para seguir; enfrentei os obstáculos sem ter medo de
errar, pois eu sabia que o maior erro das pessoas era ter medo de errar, e,
muitas vezes, a gente deixa de acertar só por causa deste medo.
É claro, eu precisava de muita coisa
para ser um ser completo, mas tentava encontrar, no meu trajeto, as ferramentas
necessárias para construir a minha própria felicidade porque eu sabia, ela
dependeria muito mais de mim do que do outro, e se eu dependesse demais das
pessoas para ser feliz eu não
encontraria a tal da felicidade. E cada novo ser que encontrava pelo caminho
tentava conquistá-lo e transformá-lo num amigo, e foi fazendo isso, descobri a
mais nobre de todas as vocações que eu nem sabia possuir dentro de mim, a
vocação de conquistar e fazer amigos. O meu jeito verdadeiro de ser e muitas
vezes foi criticado pelas pessoas, agora seria o motivo de orgulho e de carisma
por todos aqueles que eu já havia conquistado e transformado em amigo. Eu
estava pregando a minha filosofia, a mais correta desde a criação do mundo, a
de ver em cada ser um irmão, a de ser esbofeteado num dos lados da face e ter
que oferecer a outra para se cumprir as
palavras do nosso Pai e Criador Celeste, o Ser Onipresente de estrutura
Onipotente, que comanda a vida de todo ser humano e que muitos nem acreditam na
sua existência.
Percebi que eu precisava parar de
inventar desculpas para os meus erros,
Eu culpo a mim mesmo e não aos outros irmãos por tê-los praticados, pois arranjar um bode
expiatório para explicar os nossos equívocos é muito fácil, mas ter a certeza
daquilo que realmente queremos é muito difícil, porque nós nunca queremos tomar
decisões em nossas vidas e acabamos por tomar, como se sabe, a nossa vida é
vivida a cada momento como se ele fosse único, e realmente falando, todos os
nossos momentos são únicos, cabe a cada um de nós sabermos vivê-lo da nossa
melhor e mais suave maneira. Eu queria fazer as pessoas acreditar de que elas
poderiam ser fortes; queria, também, que
o caminho de cada uma delas fosse seguido com segurança, ou seja, eu pregava a
cada uma, a vida era para ser vivida e
precisaríamos muito da nossa força interior para um dia podermos ser
vencedores. Todos nós possuímos limitações e elas estarão mais presentes em
nós, nos nossos momentos de fraquezas, nos dando a certeza de que são das
nossas limitações a construção de um mundo ilimitado de alternativas, isto é,
quanto mais fraco estamos, mais forte nós realmente seremos; só através das
nossas fraquezas conseguiremos a força necessária para provarmos a própria força. Neste pensamento, sempre
constante, eu, aquele jovem caricaturado, naquele espelho, naqueles dias de
setembro, queria uma chance para mostrar às pessoas que eu possuía dentro de
mim a força necessária.
Não queria as pessoas seguindo pelo meu caminho, e nem
esperava que elas pensassem ser ele
verdadeiro, mas eu tinha que buscar a minha própria imagem, para isso
voltaria um pouco no tempo e pensar em muitos obstáculos superados para chegar ali onde eu estava. Nós
precisamos, às vezes, parar e olhar ao nosso redor, para compreendermos também
que somos as peças fundamentais do nosso
próprio progresso. Amar e servir é uma lei divina; necessitamos amar e ser
amado, pois quem não ama resseca a alma, alma ressecada não consegue
traduzir, realmente, a precisão para o
nosso viver. Eu estava cada vez mais confiante de que poderia elevar o meu pensamento
e repassar para as pessoas tudo de
dentro do meu ser. Obstinei no meu pensamento de poder fazer o meu mundo mais
humano, mas para isso faria desabrochar
nas pessoas um sentimento próprio de amor; também, eu precisava de metodologias
diversificadas, pelo tamanho do contingente humano, para tentar aderir à minha proposta de vida,
mas não desisti, fiz de minha vida, a partir daquele momento, uma busca
esporádica da minha imagem. Não se via
tão distorcida, mas expressa em cada um de meus semelhantes que eu encontrava
pelo caminho trilhado.
AS PRECES DE UM JOVEM LOUCO
Eu já
tinha me acostumado com a ignorância dos seres humanos, tudo que eu fazia era
apenas uma forma de tentar transformar o meu mundo em algo evidentemente muito
mais fraterno e mais justo, mas quem era eu? Apenas uma caricatura de sonho,
uma pessoa desacreditada, por meus próprios semelhantes, nada poderia fazer, a não ser orar a cada
segundo, para que as coisas dessem certo em minha vida. Eu não podia ficar
esperando, porque havia aprendido que a
vida só vale a pena quando os nossos ideais são buscados com afinco, e quando a
nossa alma não é pequena. Mas eu queria sempre mais. Quando conseguia uma
vitória queria outra bem maior, a cada novo objetivo alcançado conseguia
almejar mais dez outros à frente, ou seja, a minha vida consistia numa
frenética louca de sonhos e fantasias que precisaria de ações palpáveis para
não se tornar completamente sem sentido. Assim era a minha vida, assim também é
a vida de todos os outros seres humanos, quando não encontram aquilo que buscam
se frustram e se tornam seres monótonos, sem alegria e sem esperança. Eu não
era assim e nem pretendia ser, pois acreditava na essência de um ser soberano
que havia me ensinado a graça da humildade e a sensibilidade de ver em cada um
de meus semelhantes um irmão, mesmo quando alguém me batia num dos lados da
face, eu sempre oferecia o outro para que se cumprissem as ordens desse Ser de
Essência no seu velho, mas sempre atualizado, Livro da Vida.
Ficava, ali, parado e olhando fixo ao horizonte para
ver se encontrava alguma resposta para as pessoas serem tão idiotas e
mesquinhas, pois eu também poderia ficar daquela mesma forma e não era bem
aquilo que eu precisava para mim em minha vida, mas poderia ser. O meu futuro, também, quem sabe, poderia
estar ali no âmago daquelas pessoas sem escrúpulos. Sempre maldiziam o próximo
para tirar proveito da situação e eu nem sabia
o que seria de mim, se estaria certo ou errado, mas eu tinha por
obrigação seguir os meus preceitos de estima e consideração para aquilo que eu
defendia como certo, pelo menos para a minha pessoa. Não era possível o que eu
havia criado e aceitado, em minha vida, como algo normal, fosse totalmente banalizado
pelas pessoas as quais se encontravam ao meu redor. Eu seria mesmo diferente, pois eu acreditava que o diferente
era ser igual a mim, e não fazia o meu gênero ter as pessoas como modelo,
apesar de quando criança a gente possui
limitações e segue os modelos antiquados de nossos pais, que não são errados, é
verdade, mas, às vezes, se tornam ultrapassados pela própria época em que nós
vivemos, ou seja, a gente aprende muitas coisas e ficam perdidas no tempo e não
serão nunca aproveitadas em nossas vidas; deve ser por isso que sempre se vêem
os jovens inventando modas, mas eu não me preocupava com o modismo acelerado,
queria ver as coisas acontecendo no seu ritmo normal, não haveria porque
acelerar a trajetória de cada coisa
acontecida em minha vida, entretanto eu não poderia e nem ficaria esperando elas acontecerem para tomar
alguma providência.
Acreditar
na essência de cada novo amanhecer é explicar com todas as letras aquilo que eu
já imaginava, e fazia isto toda nova manhã e em cada novo entardecer, e no
intervalo, entre esses dois períodos do meu dia, ficava a meditar a cada minuto
sobre tudo e o que os outros faziam,
acreditava ser, assim, autêntico, e
tentando ser original criei um modelo
para mim, mesmo que ele não fosse seguido pelas outras pessoas, ou seja, eu não
me importava com a diferença entre mim e os outros seres, eu queria apenas
criar um paradigma diferente, mesmo que fosse reprovado por todas as outras
pessoas mas servisse, pelo menos, de opção,
para que um dia alguém pudesse seguir. Quanto mais eu tentava ser diferente e
criar esse novo modelo sentimental de jovem, mais eu me afastava das outras
pessoas, e, sendo diferente, eu provavelmente teria que me tornar mais
solitário, mas não estava mesmo a fim de passar o resto da minha vida colocando
a vida do meu irmão em xeque, ou seja, já era o suficiente tudo que os meus
famigerados irmãos já passavam, e cada nova ação equivocada, praticada por cada
um, era motivo para me entristecer e fazer as minhas preces ao meu Ser de
Essência Maior, Jesus Cristo o início, o meio e o fim de todo pensamento
humano.
Nas
minhas orações eu não pedia nada para mim, queria apenas que as pessoas
pudessem compreender, como eu, toda a
essência divina, e seguissem os mandamentos de Deus no Livro Sagrado. Muitos
sabiam de cor, mas não acreditavam serem
eles verdadeiros. Eu sei que eu não era
perfeito, mas o mundo se encontrava até então imperfeito demais, era irmão
matando irmão por causa de um simples pedaço de chão, as famílias fragmentadas
e sem uma cabeça para dirigi-la, filhos matando pais por causa de coisas
banais; a felicidade de cada um sendo destruída por suas próprias mãos por não
acreditarem na sua existência; o preconceito racial e religioso fazendo o mundo
virar uma turbulência; as crianças antes
de conhecerem os pais sendo jogadas nas latas de lixo; gangues brigando entre
si por um poder que nem sequer existe; país poderoso querendo dominar o que já
está dominado; pessoas transformando o seu momento de lazer em chacinas nos
estádios de futebol; crime se organizando e lutando contra uma polícia
desorganizada; pessoas de bem sendo completamente extorquidas pela máfia
social; um paraíso terrestre sendo transformado num inferno; os meios de
sobrevivência, humano, criados para melhorar a vida, encurtando de forma brusca
a nossa própria vida; as nossas crianças deixando de ser criança cada vez mais
cedo, tudo por causa de um sistema que nem sequer funciona; a prostituição
pedindo passagem; o alcoolismo ganhando cada vez mais novos adeptos; a maconha e
as outras drogas assumindo um papel de destaque na nossa sociedade; a mídia
fragmentando todos os sentimentos do homem; as leis criadas e não executadas e
quando executadas dando cada vez mais direitos aos criminosos; a sabedoria
dando lugar à ignorância; a alegria se
transformando em tristeza; o orgulho dando lugar à descrença; a beleza dando lugar aos pesadelos
horríveis.
Eu
imaginava tudo. Até fiquei mais forte com essa imaginação, modifiquei todo o
meu ser, queria permanecer com a mesma essência que me fizera, até então, um
jovem de visão de futuro, mesmo sabendo
o futuro de todo ser humano, a
morte. Lá eu precisaria renovar o meu espírito e tratar bem a todos, os que estavam
ao meu redor, para viver feliz; não adiantava
eu me desesperar porque de
qualquer forma a fúnebre e tenebrosa morte vem, por ser algo natural na vida de
todos os seres vivos. Pensando, em tudo isso, resolvi praticar um ritual
sagrado oferecendo a minha vida ao meu Pai Supremo. Falando com ele, todos os momentos, através
de minhas simplificadas orações. Sempre recebia críticas dos meus irmãos por
eles não acreditarem na existência de Deus; então, não me importava e
continuava as minhas conversas que outrora ficaram cada vez mais particulares,
tudo por causa das duras críticas dos
meus semelhantes e, porque, não eram tão semelhantes assim. Aos poucos fui
perdendo a coragem de orar na frente de meus irmãos, não porque estava perdendo
a fé mas porque eles me esnobavam e me deixavam cada vez mais arrasado com suas
críticas, porém nunca esquecia deles nas minhas orações, sempre pedia ao Meu
Senhor que tivesse pena deles porque eles não sabiam o que faziam, e,
verdadeiramente, eles não sabiam mesmo.
As minhas
preces sempre aconteciam em momentos propícios, no começo eu pedia muito, mas
pedia muita paciência, muito amor, muita felicidade, muita coragem, e,
principalmente, que Deus aumentasse a minha fé e foi isso que aconteceu, porque
quando eu pedi paciência Ele me mostrou a descrença dos meus irmãos e me fez
ser um ser, não cansado, mas sempre estimulado para tudo que viria a acontecer
em minha vida, quando eu pedi amor, eis que Ele me fez acreditar em cada um dos
meus irmãos como sendo ele, em cada um ,
ou seja, eu aprendi a amar amando cada um de meus semelhantes; a felicidade que
eu havia pedido era questão de tempo pois quando a gente consegue ter paciência
e amar com certeza a felicidade passa a existir para essa pessoa; a coragem que
eu precisava eu já possuía, contudo não sabia que a possuía e só descobri
quando Deus colocou os obstáculos em minha vida para serem superados. Confiante
em tudo que havia aprendido nas minhas conversas, a minha fé estava muito
grande e eu podia e conseguia fazer as
minhas preces sem me importar com as outras pessoas, pois a língua afiada de
cada uma não me afligia mais; eu não era
aquele ser estúpido, de pensamentos mesquinho como era a maioria esmagadora de
meus ilustríssimos irmãos.
E lá
estava eu nas minhas súplicas, pedindo e pedindo. Quando descobri que as
orações não servem somente para Deus nos oferecer alguma coisa, mas para nós
também oferecermos para ele o nosso reconhecimento de que não poderá existir um
ser mais supremo do que ele. E sempre me colocava abaixo dos outros seres, pois
não há nada melhor do que a gente não se sentir melhor do que alguém, porque
quando mais nos sentirmos superiores mais inferiores nós seremos para Deus. A
vida me mostrava toda a capacidade que eu tinha de poder amar o meu próximo e
fazer dele meu verdadeiro irmão, mas, às vezes, me faltava tempo, essa era a
desculpa minha e de todos os outros seres da minha espécie. Eu pedia a Deus
paciência mas para quê? Se eu não tinha tempo. Eu pedia a Deus um espaço, para
quê? Se o meu tempo não era suficiente para poder preenchê-lo com minhas
atitudes. Eu pedia tudo, mas não conseguia nada, tudo porque o meu Deus exigia
demais de mim, ou melhor, eu não tinha nada para oferecer a Ele. Tudo porque eu
era ignorante, não tinha fé suficiente para aceitá-lo em minha vida da forma
como deveria. As minhas palavras
iniciais sempre foram de duras críticas aos meus semelhantes. Eu imaginava
serem bem piores do que eu, e fazia tudo da maneira errada pensando estar
praticando o certo, pelo menos para mim,
não acreditava muito em mudanças, mas Deus, o Ser Magnífico, me tocou e eu a cada
nova oração, a cada novo amanhecer percebi que
poderia ser melhor, e, realmente falando, eu consegui observar as
características fúnebres de meus irmãos como algo normal, se bem que
normalidade não tem nada a ver com todas as ações praticadas por todos eles, ou
seja, apenas eu consegui me diferenciar do padrão lógico das coisas. Isso era
algo normal porque o que eu esperava para mim estava além dos paradigmas
sociais descartáveis, que não me serviriam para nada na minha busca
indiscriminada pelos meus ideais.
Os meus
ideais eram conseguir levar uma palavra de conforto para todas as pessoas, isso
era simplesmente fantástico, mas era
necessário que as pessoas pudessem acreditar em mim, ou seja, eu tornaria a
minha busca em algo que pudesse satisfazer a todos os meus sofridos irmãos e
ficava a imaginar e através de pensamentos conversava com meu Deus: “Pai,
todos os meus irmãos, hoje, não acreditam em ti. Faça-me um ser que consiga elevar a auto-estima
deles para que possam acreditar. Eu sei Senhor, eles têm pouca fé, mas tudo mudará porque tu és o Mestre dos
Mestres, o dono de todas as coisas do universo.
Eu acredito nas tuas palavras como todos
acreditam; o problema, Senhor, é, que eles possuem, uma auto-estima fracassada.
Eles não acreditam neles. Como
poderiam acreditar em ti? Ah, Senhor, mas eles acreditam da maneira deles;
eles acostumaram-se com o sofrimento, com a falta de coragem, com a prepotência de
alguns. Faça com que eles tenham como ponto de referência uma luz no fim do túnel. Faça isso, Senhor,
em nome do teu filho amado, é o que eu te peço, amém”.
Toda
a minha vida foi assim, queria poder abraçar todos os meus irmãos, mas a
distância que os meus minúsculos braços poderiam percorrer, não conseguia ir
além de mim, então, acreditando na possibilidade do meu corpo franzino
conseguir ultrapassar os meus próprios limites, comecei a acreditar muito mais
em mim e o meu Deus estava comigo e eu estava confiante de que ele não me abandonaria, assim poderia conseguir de
forma concreta chegar muito mais próximo dos meus objetivos.
O Deus
que eu seguia era o mesmo, apesar das pessoas diferenciá-lo, ou seja, havia
dentro do meu mundo uma espécie de guerra santa, as pessoas estavam fazendo da
religião uma espécie de comércio, o comércio da fé, muitas pessoas prometiam
curas em nome de Deus, mas para isso a pessoa teria que pagar; outras porém,
perguntavam aos seus fiéis, quem tinha fé? E aquele que ofertasse mais, tinha
fé maior. E lá estava eu novamente a conversar com o meu Deus: “Senhor, ajude-me
a ser um ser completamente despido de orgulho, faça de mim um celeiro de
humildade, eu pretendo que as pessoas cresçam, faça então com que elas
acreditem em ti, não nos outros deuses falsos que existem por aí, porque todos
eles tombarão diante de ti, e aqueles que acreditam em ti, não deixem com que
eles se desviem do seu caminho, pois o seu caminho é o único que poderá nos
levar ao Paraíso Celeste, amém!”.
Eu não
era normal, só pelo fato de ter um pensamento diferenciado dos demais irmãos.
Isso estava me custando muito caro, mas
estava me acostumando com isso; então, voltava, de vez em quando, ao
quarto e começava o meu ritual, que quase sempre era do mesmo jeito, mas sempre
verdadeiro, e o meu Deus me fortalecia a cada minuto que eu clamava pelo seu
nome.
AS AMIZADES DE UM JOVEM
LOUCO
Seguir o
modelo de ser humano dos outros, para mim, seria a coisa mais absurda . Então
resolvi ser, simplesmente, único, ou melhor dizendo, o oposto de tudo que eu
via nos outros seres humanos. Os meus amigos eram tidos como normais; eu nem
sabia o que era ser normal porque, ainda, não me via pronto a distinguir os
paradigmas juvenis de minha época, ou seja, eu não me sentia melhor do que
ninguém, mas também não queria seguir modelos errôneos de seres humanos do meu meio social. Sentia-me melhor, sendo
aquele ser diferenciado dos demais; até pelo fato de querer e tinha a certeza
de poder ser autêntico e, somente, sendo
assim, eu poderia levar às pessoas as idéias absurdas da minha mente. Para todos, eram algo
inútil, para mim era a certeza de transformar o meu mundo em algo muito mais
humano e justo. Comecei então a elaborar
o meu plano; não era realmente um plano, era algo natural e estava dentro de
mim, não por acaso, mas que poderia ser divino, pois eu sempre acreditava na
possibilidade de sempre melhorar e
isto acontecia comigo, estava
melhorando a cada minuto, fazendo-me
crer que eu poderia alcançar meus objetivos, fazendo todos, que estavam à minha volta, também,
acreditarem., A minha arma, nesta batalha, era a mais simples e todos a possuíam mas não sabiam usar; as minhas ações também eram
conhecidas por todos mas ninguém as
praticavam; não por serem erradas, mas porque as pessoas, naquele momento, nem
sabiam mais que elas existiam. Os meus atos eram os mais verdadeiros porém
desacreditados por todos. Tudo porque haviam ficado num passado muito distante.
O amor era o que poderia estar me fazendo acreditar na possibilidade de
reverter o quadro, tão ambicioso, das pessoas, na busca de um poder falso e de
um futuro sem ideais.
Eu já não
conseguia me impor como realmente era para acontecer. Eu tinha que seguir um script e nem eu sabia se
existia. Para mim, aquilo era o cúmulo do absurdo, pois todas as minhas
tentativas de ser original tinham sido despencadas de ladeira abaixo. Os meus
sonhos já não eram somente meus, a minha vida estava sendo a vida de outro, se
eu parasse para refletir, realmente, a vida de todos os seres humanos é vivida
em função dos outros, mas como eu não havia refletido, tornei-me amalucado, sem
história e porque não dizer, sem memória. Tudo, que estava dentro de mim, era
um sentimento de tristeza e de negação aos meus ideais, não porque eu quisesse,
mas é porque a sociedade da qual faço parte, sempre me cobra por isso. Mesmo
assim, sem ser realmente o que eu pretendia ser, fazia de tudo para conseguir
ser feliz e até conseguia, pois eu já
sabia distinguir o certo do errado, mesmo assim, sempre que tinha oportunidade,
agia errado, pois o erro já era parte do meu ser. Eu devia ser completamente distorcido; não por mim; mas
também pelas pessoas que faziam parte do
meu cotidiano. Assim, as dúvidas sempre
vinham à minha mente todas as vezes que eu precisava escolher entre o certo e o
errado. A maioria das vezes, eu precisava saber se o certo atingiria,
satisfatoriamente, um grande número de pessoas ou o errado é que contribuiria
para o meu crescimento, juntamente com a sociedade? Vinham dúvidas à minha
mente e eu teria que resolvê-las, até porque a vida é feita de escolhas, mas
escolhas que venham de formas até equivocadas à nossa imaginação, mas de um jeito ou de outro contribuiriam
para o nosso mundo, no mínimo, diferente. O meu pensamento era o
seguinte: “escolha é abrir mão daquilo que a gente acha certo e até aceitá-lo
como errado, pois na democracia nós aprendemos a ficar com a maioria.” É isso
mesmo. Eu já estava começando a entender tudo que acontecera comigo, mas não
entendia nada que com os outros. O jovem
louco de desejo residia dentro de mim e
já estava se acostumando com as caras feias das pessoas ao meu redor. Nada mais poderia me
surpreender com as atitudes delas, ou seja,
não tinha que provar nada para elas;
tinha, sim, provar para mim mesmo
o que eu estava buscando para minha vida não era nada utópico, até porque, eu acreditava veemente; tinha
convicção e poderia alcançar os meus objetivos. Tudo dependeria única e
exclusivamente de mim. Fui conseguindo forças; quando me sentia fraco e quanto
mais fraco eu estava, mais forte eu me sentia porque acreditava em um alguém
muito poderoso, dando-me forças para
seguir o caminho que eu mesmo havia objetivado para mim e que ele mesmo havia
traçado antes que eu nascesse.
Queria
voltar a ser o jovem, completamente, oposto, mas tudo que eu fazia era ser o
mesmo, ou seja, só conseguia repetir tudo que os outros faziam, eu não me
sentia bem com isto, mas era a coisa mais viável que poderia me acontecer tudo
porque eu não poderia deixar as minhas amizades, mesmo sabendo que elas
poderiam me fazer um ser completamente errôneo e distante do que realmente eu
era. Fiz então uma reminiscência, uma espécie de viagem ao fundo do meu próprio
ego, para descobrir todo o meu ser, e entendi que na minha infância, não muito
distante, eu havia sofrido por retaliações, discriminação, humilhação, e todas
as coisas possíveis a uma pequena criança, apesar de não ser negro, o meu
primeiro amigo de escola foi negro, mas isso não foi o fator mais marcante de
minha infância, foi que a minha figura infantil era muito calada e por ser
calada conseguia captar melhor as coisas, e que também, lá naquela pequena
mente, havia um pensamento de guerreiro, e era isso que me tornava mais
confiante, eu sabia que poderia ser autêntico, e as pessoas poderiam me tornar menos eu, ou
seja, eu teria que ser muito forte para não perder a minha identidade.
Já na
infância, eu tive que suportar as chacotas dos coleguinhas; muitas vezes me criticavam, só pelo fato eu tratar as pessoas de igual para igual. Não
fora preciso nenhuma professora para me ensinar esta lição na escola, e não foi
na escola que eu a aprendi, eu aprendi vivendo ou, melhor dizendo, não aprendi, foi algo dentro de mim, desde que me entendi por
gente, mesmo sendo um garotinho calado, sempre encontrava espaço para olhar as
coisas com outros olhos. A meu ver, as coisas deveriam ser completamente
diferentes do que elas se mostravam e do que a sociedade aceitava, sempre via
pessoas dizendo, “as coisas são assim mesmo, quem sou eu para mudar o que
ninguém nunca conseguiu?”. Eu imaginava diferente, se as coisas eram assim
e ninguém fizesse nada para mudar,
continuariam assim; mas se alguém tentasse mudar, por menos que fossem
elas, não seriam assim.
Bastaria,
então, que as pessoas se unissem em busca de um ideal, um ponto em comum para que pudessem, com
certeza, entender o instrumento de transformação da nossa sociedade Se a
sociedade não é justa, talvez seja pelo fato de que as pessoas nunca se tocaram e nunca fizeram algo para torná-la
mais justa, pois não adianta nada falarmos dos deveres que os outros têm a
cumprir, se nós não sabemos qual é o nosso, e se sabemos, não queremos
cumpri-los. As pessoas poderiam até me recriminar em meus atos, mas não
poderiam tirá-los de mim. Até por que eu buscava uma forma das pessoas aceitarem suas
limitações e fazerem de suas vidas algo evidentemente muito melhor. Era assim
que eu queria a minha vida, do jeito de um livro, aberto, onde as pessoas
pudessem ler, reler e todos os dias tirar conclusões diferentes aos seus anseios, pois mesmo com as minhas
loucuras eu precisaria elevar a capacidade de amar, tanto minha, quanto das
demais pessoas, daquela forma que estava acontecendo, o amor não poderia continuar, eu não gostaria de
que as pessoas me esquecessem tão cedo, até pelo fato que me esquecendo, elas estariam esquecendo
todas as espécies de loucuras dos meus
pensamentos que seriam a minha única e esplêndida razão de viver.
Não quero
e nem vou ser o único louco, pois
contaminarei a todos com essa loucura indigesta que me alucina e me faz
crer na possibilidade de um mundo mais fraterno, mais humano, onde as pessoas
com certeza poderão virar, olhar para frente e não temer um inimigo às suas
costas, e parem de me olhar como se eu estivesse destruindo as coisas mais
importantes deles: a cobiça, o poder e a corrupção, pois se corrompem por
coisas banais. É importante que todos deixassem de lado esses sentimentos
hipócritas de poder, que é uma espécie de prazer passageiro porque parece uma
bola de neve, quanto mais se enrola maior fica, ou seja quanto mais se tem o
poder mais se quer o poder e mais se busca o poder e no final das contas menos
se tem o poder.
A única
coisa nossa é a moral, a nossa maneira
de ser é única. E por ser única, devemos tomar cuidado para ela não
nos causar constrangimentos; a vida é para ser vivida por isso devemos
vivê-la da nossa melhor maneira. É claro que teremos momentos difíceis, mas
todos eles servirão para enfatizar toda a importância do ato de viver. Os
problemas existem na vida de cada um, para serem resolvidos, e quanto mais eles
aparecem, mais nos sentimentos fortes ao resolvermos cada um, e quanto mais
pensamos que não conseguiremos resolvê-los, mais descobrimos sermos suficientes
para torná-los alcançáveis num curtíssimo espaço de tempo. Ah, o tempo! Não é
que eu me esquecendo do tempo, esse aliado cruel, digo cruel, porque tudo
depende dele, se não fosse ele, eu não estaria aqui relatando tudo isso. O
tempo, ao mesmo tempo em que é um aliado, ele se torna nosso pesadelo, pois se
as coisas acontecem rapidamente a culpa é dele, se acontecem lentamente a culpa
continua sendo dele, nós nunca conseguimos assumir as nossas falhas por causa
dele, ou seja, ele é o culpado pelos nossos sucessos e fracassos, mas continua
sendo simplesmente o intervalo entre o homem e a sua própria história.
Querer
vê-lo passar mais rapidamente é o desejo daqueles que se encontram em estado de
angústia e querer vê-lo passar mais lentamente é o desejo daqueles que se
encontram em estado de graça, para eternizar esse momento. Só que acontece
exatamente o contrário, quando estamos angustiados o tempo demora muito para
passar e quando estamos alegres ele se torna mais acelerado. É a ótica do
viver, tudo pode acontecer num simples e curtíssimo espaço de tempo, ou seja,
de um segundo para outro pode demorar uma eternidade, ou pode ser mais veloz do
que a própria barreira do nosso pensamento. Aproveitar o tempo é imprescindível para vivermos bem a nossa
vida, então que vivamos cada momento como se ele fosse único, pois pensando bem,
todos os momentos de nossas vidas levarão uma verdadeira eternidade para serem
repetidos, apesar de imaginarmos que
eles sempre são repetidos, pois na verdade não os são.
Eu queria
fazer de todo momento uma eternidade, mas só conseguia enxergar o que estava
bem perto dos meus olhos; não tinha uma visão de tudo,entretanto não era um dilema só meu, todas as pessoas
que estava à minha volta, também, tinham o meu pensamento, só que de maneira
fragmentada e oculta, ou seja, sentiam mas não conseguiam colocar em prática os
seus pensamentos, era como se eles não passassem de um sonho, muito mais irreal
do que a nossa própria imaginação.
Para
traduzir tudo, os meus amigos não poderiam ser como eu, eles tinham os seus
próprios pensamentos, e não era da mesma forma
porque, propriamente, falando, ninguém é perfeito, e se todos fossem
evidentemente da mesma forma como a gente imaginasse, a vida perderia a graça e
o mundo viraria uma ilha de tédio, pois estaria cercado de monotonia por todos
os lados, e no meio de nossos ideais, não haveria distinção entre o que seria
certo ou errado, tudo seria causa de inquietude e impaciência diante das
controvérsias que, com certeza, dominariam a mente de cada um.
Os meus
amigos não eram os melhores, mas eram os meus amigos, e muitas vezes eu tinha
que reprimi-los por algumas atitudes impensadas, mas como eu tinha liberdade de
chamá-los de meus amigos, eu também tinha a obrigação de não deixarem cair em
desgraça, ou seja, o que eu queria para mim, eu queria para eles, assim deveria
ser as nossas atitudes com todos aqueles que chamamos de amigos. Mas
angustiava-me o fato de que a amizade
não estava valendo nada, se encontrava muito mais desvalorizada do que
as moedas dos países subdesenvolvidos.
Eu teria
que conviver com aquela angústia, mas me fortalecia ainda mais quando a cada
novo dia conquistava novos amigos e a minha maneira de conquistá-los era saudável, aceitando-os com seus problemas e
até ajudando a resolvê-los; doando-me a cada momento em que estavam precisando de
mim, e, que muitas vezes, recebia críticas por parte deles mesmos. Eu não me importava com as críticas, sabia que de uma forma ou de outra elas
viriam e seriam mais uma para não me entregar e de não ser igual, em algumas
atitudes, aos outros, não pelo fato de que eu queria ser o melhor, mas pelo
fato de ser igual é um sacrilégio, ou
seja, sendo igual me igualo em número
com os outros, mas sendo diferente, com certeza, eu poderia contribuir muito
mais e realmente, fazer a diferença.
UMA SOCIEDADE ALTERNATIVA
Eu
imaginava tudo. A minha busca era a de conseguir transformar o meu mundo
desumano em vestígios de humanidade, na tentativa de retirar da extinção o
sentimento mais supremo de todos os seres humanos, o amor. Para isso era
preciso fazer as pessoas entenderem que o verbo amar deveria ser conjugado em
todos os tempos, mesmo sabendo que dentro da ignorância, nasce seres
superdotados de sentimentos, ou melhor dizendo, dentro do mundo cheio de ódio e
rancor, pode aparecer alguém preocupado com o amor, dentro da estupidez do
mundo poderá aparecer alguém sensato que realmente dê valor aos gestos de
sentimentos.
Um
pequeno gesto, por parte de qualquer um, vale mais do que todas as palavras, e
não adianta as pessoas falarem tanto de algo que não acreditam. Esse era o meu
pensamento e poderia ser muito bem o pensamento de várias outras pessoas, desse estereotipo, as quais eu mentalizei
dentro de mim. Não sei se aparecerá alguém desta forma tão diferente, mas eu não
poderia deixar a minha batalha no meio do caminho, eu entendia que alguém
precisava de mim, e só por precisar era um motivo a mais para eu não desistir de lutar pelos meus ideais.
Uma
sociedade perfeita eu sei não haveria, mas eu poderia lutar para que a minha
sociedade tenha mais alternativas de escolhas, pois tinham vontade de praticar determinado tipo
de ação, mas, por ser minoria, não praticavam. Era nesse aspecto que eu mais me
diferenciava dos outros seres da minha mesma espécie, as pessoas precisavam de
um modelo, mas eu não me sentia esse modelo de pessoa; eu tinha as minhas individualidades e de qualquer maneira elas seriam as
individualidades de outras pessoas. Eu teria que descobrir o porquê delas serem
tão espevitadas em mim.
A
sociedade teria que mudar totalmente o seu padrão, ou seja, todos os membros
que estavam dentro dela mesmo, sendo uma partícula dela, não estavam mais
acreditando em suas potencialidades, até porque não as possuíam. O amor deveria
ser pregado por todas as pessoas, mas eu estava percebendo que ele estava
virando um sentimento estúpido sem características de amor e aos poucos estava
se transformando numa lenda, porque
todos acreditam na sua existência, mas
ninguém estava mais o sentindo, dentro de si. Para mim, ele poderia ser
comparado com a Iara, Mula-sem-cabeça, Lobisomem, Curupira, e várias outras
lendas famosas do nosso folclore, até porque se eu pensasse bem, o só existe se
existir alguém que acredite na sua existência. Eu já estava vendo o amor, mas
não estava mais acreditando na sua existência, eu já o estava sentindo porque tudo que até então era tão
claro. A pessoa sem mais nem menos tornaram-se obscuros e a minha mente
amalucada já não compreendia a razão pela qual as pessoas estavam brigando
entre si e se destruindo por suas próprias mãos.
Através
dos próprios meios de sobrevivência, os meus irmãos construíam armas de morte e
estavam dando fim uns aos outros, uma faca por exemplo, um pequeno instrumento
de cozinha, estava sendo usada para os mais terríveis assassinatos; uma corda,
que fora criada para ajudar as pessoas, estava sendo usada para os mais
diversificados tipos de suicídios; um machado. que tanto foi necessário ao
homem para a construção de estradas, casas, estaria sendo usado para esbagaçar
crânios de irmãos; os meios de transportes usados para facilitar a vida; se
vendo demolindo de forma assombrosa os vestígios vitais da raça humana, tudo
por causa de um progresso falho. E porque a tecnologia da controvérsia chegou
às classes menos favorecidas da sociedade, que para mim, não havia diferença,
até porque a violência estava e continua por toda a parte, os seres humanos
estão se esquecendo de viver e de transformar sua vida em algo mais útil.
Não é
pelo fato de ter dinheiro, que a violência aumentou, não é nada disso, a
sociedade esqueceu do verbo amar muito mais rápido do que imaginável, e se
pararmos para pensar é isso, pois o amor maior é Deus, e o nosso Deus está
sendo trocado por deuses que ao invés de pregar o amor, prega uma espécie de
convivência que dilacera de vez com os laços familiares, não está mais
existindo família, a sociedade está quase chegando ao fundo do poço, e o
culpado de tudo, somos todos nós, seres humanos, ambiciosos por um poder e nem
sequer existe, à procura de algo que só se encontra na mente, à busca de um
prazer estúpido e passageiro é o caso
dos vícios que cada dia aumenta dentro dos nossos lares, tomando todo
o espaço do carinho e fraternidade o qual era para existir dentro de cada um.
Eu sabia
que muito pouco poderia fazer para mudar a realidade, mas nunca poderia
deixar esse muito pouco se transformar
de repente em nada, pois sempre acreditava no velho ditado: “é melhor pingar
do que secar”, pois eu precisava lutar para não deixar toda a minha luta
fracassar, ou seja, eu queria que todos, mesmo se não amassem, se entendessem
de forma clara o principio básico do amor, o sentimento responsável pela nossa
própria existência na face do Planeta Terra,
Eu era um
ser espirituoso, sempre me via falando de amor e entregando amor a quem viesse
de encontro à minha pessoa, mas na maioria das vezes, encontrava pessoas atéias
que nem sequer conseguiam enxergar um palmo diante dos seus narizes, até
porque, o Deus invisível não estava tendo o poder que todos esperavam, pois ninguém
tinha fé, era muito mais produtivo acreditar no Deus do dinheiro, um Deus
poderoso que estava corrompendo todos os seres humanos, pois para cultuá-lo as
pessoas eram capazes de tudo, vender o próprio corpo, praticando e aumentando a
prostituição, uma promiscuidade de horizontes infindáveis que estavam
aparecendo para contaminar e destruir de vez tudo de melhor que existia na
sociedade; o Deus do Prazer Passageiro também estava presente e de forma
assombrosa fazendo crescer ainda mais a Religião das Drogas, uma religião
ascendente, que se destaca pela volúpia dilacerada de seus praticantes, de
procurar sempre mais o prazer que se encontra no álcool, no cigarro, e em todas
as outras drogas que causam de certa forma um alívio para a mente, e que
destrói de forma indecente todo o complexo muscular, ósseo, moral e espiritual
humano. Eu já estava me sentindo realmente louco, mas um louco consciente de
que quem precisava de remédio para me curar desse mal, só que eu não sabia que
espécie de remédio poderia ser usada para amenizar o mal da sociedade.
A minha
vontade era de sair mundo afora e procurar um grupo de pessoas que fossem
iguais a mim, mas as notícias que eu via na TV não era nada animadoras, não
sabia por onde começar a mudar a sociedade e no silêncio do meu frio quarto, às
vezes, suava de tanta preocupação porque eu sonhava com uma sociedade realmente
alternativa que pudesse fazer todos os seres humanos seguirem, de forma
exemplar, os caminhos legais, só que eu não entendia o que realmente seria um
caminho legal, pois aquilo que para mim era legal, para os outros eram
completamente errado porque fugiam do padrão normal e habitual das coisas. Eu
não tinha muitas alternativas para mudar o que era praticamente imutável. Eu
também não pensava em ser igual, apesar de algumas semelhanças, teria que prosseguir em busca de uma
realidade que para muitos seria irreal, mas
para mim era uma convicção de mundo onde as pessoas poderiam e seriam,
evidentemente, diferentes.
Certo
dia, eu estava refletindo na letra da música “Imagine” do John Lennon,
principalmente aquela parte que diz: “Você pode até me achar um sonhador,
mas eu não sou o único, um dia você se juntará a mim, e o mundo será um só!”
até porque era isso que eu ouvia as pessoas comentarem a meu respeito, sempre
diziam: “você é louco, só você é que pensa assim, você é muito antiquado,
isso é o que você pensa e é muito diferente do que os outros pensam, se você me
mostrar alguém que tenha os seus mesmos pensamentos eu te aprovo”. E sempre
reprovavam, ninguém queria ser chamado
de louco, a procura de uma causa que, para muitos, era perdida, parecia , eu,
uma ovelha desgarrada, a única que não tinha salvação. Isso me dava mais forças para eu não desistir, e a
cada dia mais eu me fortalecia, porque eu era um espécime em extinção, e,
portanto, deveria fazer de tudo para não me corromper. Como foi o que aconteceu
com todos os meus ditos irmãos, que ao invés de terem cada um o seu ponto de
vista, se viram entregues ao mundo dos prazeres carnais, é claro, eu também,
por ser humano, tinha uma porção de vontade de praticar atos obscenos, mas por
acreditar que tudo é passageiro e por ter a certeza de acontecer tudo
no tempo certo, eu não praticava; não queria acelerar o passo das
coisas, como todos faziam; eu queria apenas ser coerente porque tudo deveria acontecer da forma correta e não
seria um prazer passageiro a demonstrar toda a minha postura de ser cheio de
problemas e repleto de defeitos.
A
sociedade muitas vezes cometia atos abusivos entre os seus membros, essa não
deveria ser a forma correta para eu conseguir me aproximar de cada um deles,
mas sendo um deles, eu aos poucos esqueceria de mim, e era por isso mesmo que
eu não me entregava aos vícios periódicos, acostumados por todos os meus
semelhantes. Eu tinha a obrigação de ser o original, até pelo fato de eu não achar nada certo o que era praticado
pelos meus terríveis e aterrorizantes irmãos. Sabia que todos continuariam me
criticando por tudo que eu faria e desagradasse cada um deles, mas não era esse
o meu medo, o meu medo era o de ser esquecido pela sociedade, porque se eu
fosse apenas um, não adiantaria nada, mas como eu era diferente, dificilmente
seria esquecido por todos aqueles aos quais cruzaram comigo no decorrer de toda
a minha vida.
Um script
social diferente é o que eu almejava, e não deixarei nunca de almejar, pois nós
nunca estaremos contentes, sempre quando vencemos um desafio, já planejamos
outro, depois outro... apenas eu tinha a certeza daquilo que eu buscava, e se a
gente não tiver realmente certeza daquilo que buscamos, é melhor a gente
esperar para se ter essa certeza, caso contrário poderemos fazer coisas
que mais tarde nos arrependeremos,
porque a vida é o resultado daquilo que buscamos por nós mesmos, e viver é
buscar dentro de nós mesmos a força que nos faz necessários.
Poderia
até ser diferente, mas eu tinha certeza de que eu poderia fazer alguma coisa
para mudar o meu mundo, conseguir transformá-lo em algo mais justo e confiável,
então no meu imaginário de possibilidades, tentava modificar cada pequeno
detalhe que para mim poderia ser um defeito, e de alguma forma poderia obstruir
o espaço que existia na minha mente. \a sociedade alternativa teria que ser um
retrato de tudo que seria bom, mas ninguém pode dizer o que é bom, se realmente
não viver o que é bom, ninguém pode falar de carinho se não conhecer carinho,
ou melhor, pode até falar, mas de maneira inconsciente, eu já estava pensando
que todos os meus atos eram também inconscientes, porque ninguém falava de amor
e eu amava, ninguém falava de carinho e eu falava, a minha visão era de alguém
que em algum lugar vivera toda a espécie de amor. Parecia que eu tinha vindo de
outro planeta e o ser extraterrestre que
se aflorava em mim, dava-me certeza de
dias melhores e a cada dia esperava mais melhorias .
Aquele
louco, de sonhos impossíveis, queria fazer as pessoas acreditarem na
possibilidade de um mundo, evidentemente, muito melhor. A responsabilidade de tudo que poderia vir a
acontecer de errado, devia ser assumida por alguém e era esse o meu medo, mas
eu não poderia deixar de ir à luta na realização do meu maior sonho, o sonho
mais bonito que eu tivera, até então, em minha vida, tentar colocar todos os
seres humanos no mesmo patamar, ou seja, tentar diminuir consideravelmente o
tamanho da diferença entre os humanos. Não estava mais agüentando tanta
indiferença de raça, cor e credo religioso, para mim, ninguém poderia ser
melhor do que ninguém, mas a sociedade é capitalista e racista, e todos os seus
elementos já estavam acostumados com isso, porque eu via pessoas se
discriminando; porque as mesmas leis que lhes trazem direitos, trazem-lhes as
mais pesadas obrigações, um exemplo bem claro vemos bem próximo de nós, em 13
de maio de 1888 a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea abolindo todos os
escravos que havia no Brasil, mas hoje há uma escravidão maior do que aquela do
Período Colonial e Imperial, porque a escravidão que se limitavam aos negros e
índios, chegou de forma assombrosa aos brancos, e agora os negros e os índios tornaram-se
escravos de um sistema social ridicularizado por leis que muitas vezes só
existem no papel. Falam tanto de direitos humanos, mas não existe qualquer
forma de humanidade entre os seres.
Lutarei
bravamente para que eu não seja o único louco, quero num futuro bem próximo,
contar com dezenas, centenas, milhares de loucos que pensem iguais a mim, ou
que pelo menos tenham os mesmos ideais de libertação, eu sei que a tarefa não
vai ser fácil, e não espero resultados imediatos, pois tenho certeza que para
encontrar uma sociedade alternativa é preciso de alguém para mostrar
alternativas para essa sociedade. Ninguém poderá viver na solidão, e "uma
andorinha sozinha não faz verão”, sendo assim eu acredito nas
potencialidades de todos que estão à minha volta, não desistirei nunca dos meus
sonhos e não deixarei nunca de sonhar, até pelo fato de que quem não sonha
resseca a alma.
A
sociedade sempre precisou de um mártir, eu não quero ser esse mártir, mas com
certeza tentarei de todas as formas possíveis ser o mais fiel exemplo de ser
humano, não um ser humano perfeito, mas um ser humano cheio de falhas, pois
sendo assim terei como me aproximar das pessoas sem que elas tenham medo dessa
aproximação. Até porque, perfeito mesmo, só Jesus Cristo, que, mesmo assim, recebeu
críticas e mais críticas para provar o seu amor à humanidade, e, hoje, mais de
dois mil anos depois da sua passagem física pela Terra, vivendo como nós, é
alvo de críticas por tudo que fez e continua fazendo por cada um de nós.
Quando
qualquer um de nós estiver sofrendo, devemos parar e pensar em todos os atos de
Jesus, só ele é o caminho, só de refletirmos sobre sua vida, já dá para
perceber que por maior que seja o nosso sofrimento é muito menos do aquele que
Jesus sofreu na cruz do calvário por cada um de nós, a nossa dignidade, a nossa
felicidade, a nossa esperança, sempre estará nele, é ele que nos dará a força
necessária para superarmos todos os problemas
em nossas vidas, basta que todos nós, membros da sociedade, abracemos
com firmeza a característica comum que temos com cada um. Nós somos sócios e
sócios discutem o que é melhor para todos, não o que favorece apenas um pequeno
grupo, temos então deixar de pensarmos somente em nós; deixar o nosso
egocentrismo de lado e pensar naquilo que realmente vai me favorecer, mas que
também favorecerá um grande número de pessoas. Não pode ser só por minha causa
que as coisas deverão acontecer, mas também, para todos os seres humanos.
Eu
acredito na possibilidade de um mundo melhor e isso acontecerá quando todos acreditarem e fazerem
a sua parte, para isso é necessário que todos saibam qual é a sua parte.
POLIVALÊNCIA
Tudo que a gente busca , se houver
muita persistência, consegue. Era assim a minha crença. Aquilo que
aparentemente é fácil demais se torna sem sabor. Para o jovem louco era muito
verídico o ditado popular: “quando a esmola é demais até o santo desconfia”.
Quem busca realizar seus sonhos, tem que arregaçar as mangas e ir à luta, com a
arma mais poderosa que Deus deu, a nossa fé, além de ter muita força de vontade e obstinação na
execução daquilo que fora proposto como meta na vida. Caso contrário, deverá
deixar e sonhar, e assim, estará ressecando cada vez mais a sua alma.
Acredito que a vida seja sempre uma
constante busca de realizações, pois quando conseguimos êxito num determinado
assunto, logo vem outro com um patamar ou grau de dificuldade maior, dando
realmente sentido e completando a dinâmica, a sua própria dinâmica.
Nem sempre estamos satisfeitos; as
dificuldades que a vida oferece, só
serve para testar toda a nossa fortaleza, pois só os fortes sobrevivem. Às
vezes, é preciso abandonar muitos sonhos para realizar outros; eu mesmo não os abandonava, apenas adiava.
Isto não queria dizer que eu era um ser desqualificado ou desclassificado,
apenas eu teria que entregar o melhor de mim para desempenhar, com êxito, cada uma das minhas funções. Era óbvio, eu
não permaneceria toda minha vida numa só
função.
A
trajetória de todo ser humano é cheia de altos e baixos, o que, realmente, me
fazia acreditar era eu poder desempenhar certa função. Essa era a minha força
de vontade e a minha curiosidade ao desconhecido (algo que deve estar dentro de
cada ser humano) e porque não dizer: a capacidade que sempre possuímos de usar
a nossa própria maneira de ser e de certa forma transformar o nosso viver.
Os
seres humanos são ricos em alternativas, ou melhor dizendo, são
criativos, sabem no mínimo blefar uma palavrinha horrorosa, que está sempre acompanhando
a nossa vivência, mas nunca conhecemos
ou entendemos realmente o seu significado.
Eu
não pretendia ser um blefador porque tudo aquilo que fazeria, sempre me colocava um grau abaixo e
não acima como fazem todos os blefadores, e, assim, não corria riscos de não
dar conta do recado. Muitas pessoas chamam esta atitude de humildade. É fácil
ser assim, basta você se conhecer muito bem e sempre se colocar abaixo daquilo
que você avaliou, mas isto também não quer dizer se aniquilar; o que já sabe é se precaver de
alguma surpresa que o futuro possa trazer. Outra lição que eu aprendi também é
a de estar sempre disposto a recomeçar e
cada recomeço é uma forma de reciclar o que aprendemos.
O
jovem louco era criativo, abusado, persistente e não possuía orgulho; estava
sempre disposto a recomeçar, mas cada
recomeço era uma forma de crescimento tanto interior como exterior.
Nunca
fui de dizer que sabia das coisas, pois um pensamento filosófico de Sócrates
estava sempre dentro de mim: “Só sei que nada sei!”
A
minha humildade era grandiosa, aprendi a ser assim na labuta do meu dia-a-dia.
A minha vida nunca foi fácil, mas deveria imaginar que a vida do outro também
não é. Todos nós somos seres limitados, até traçarmos objetivos novos e cobrar
mais empenho de nós mesmos. É uma briga entre o
nosso interior querendo vencer o exterior. E você ter que fazer de tudo
para haver um equilíbrio entre estas
duas forças.
As
características que eu possuía no meu “currículum vitae” eram suficientes para
que eu fosse aprovado pela sociedade?
Esta
era uma pergunta que sempre me torturava. Uma simples folha de papel pode ser o
caminho indiscutível para a formação de profissionais, desqualificados e sem
capacitação para as atividades desempenhadas, daí o motivo para tanto egoísmo.
É um capitalismo selvagem destruindo quase todas as possibilidades das pessoas
serem honestas, e não serem tão mesquinhas. O currículo de uma pessoa é o
resultado daquilo que ele acumula durante toda a sua vida. Num currículo
encontramos as qualidades das pessoas;
ali não há uma mostra dos defeitos. É uma concorrência, ou você é melhor ou a
sua chance de ser um profissional fica cada vez mais distante.
Sei
que eu não podia ser tudo, mas queria ser um pouco, o mínimo possível, seria o
suficiente para que eu fosse o máximo. Trocando em miúdos, nós precisamos é sermos realmente capazes de
buscar objetivos e traçar metas alcançáveis. Não devemos nunca fantasiar as
coisas, há sempre aquela concorrência quando se fala em emprego. As pessoas
recheiam os currículos, com mentiras, apenas para tomar proveito da situação,
muitas vezes não possuem, na prática, as qualidades especificadas para o
desenvolvimento da função, ou seja, o papel aceita tudo, mas a prática não!
Aí
é que está o problema da maioria das pessoas, nunca estão satisfeitas com o que
têm nem com o que são, sempre se vêem frustradas por não fazerem aquilo que realmente sabem.
Foi
pensando nestes problemas que o jovem louco que existia em mim, me mostrou que
não era preciso saber tudo de uma coisa para se ter sucesso, mas sim, entender
um pouco de tudo. Uma pessoa polivalente hoje tem muito mais chance de se dar
bem em sua profissão, seja ela qual for.
A
gente não precisa entender só aquilo que é atribuição específica da função que
assumimos, pois cada atividade desenvolvida requer vários outros atributos para
se chegar ao seu pleno desenvolvimento
Polivalente.
É essa a palavra que vai nos fazer dignos do merecimento da função que
desempenhamos. Devemos ser uma mistura heterogênea de função pois quando
desenvolvemos uma atividade seremos capazes de suprir toda a agonia,
deficiência e deixamos transparecer a nossa própria maneira de ser.
Foi
pensando assim que eu decidi ser uma pessoa eclética na tentativa de mudar o
meu próprio mundo e ter mais uma chance de me dar bem profissionalmente. Esta
foi o meu diferencial em relação a todos os outros. Não é difícil, você tem um
sonho, que para realizá-lo precisa de etapas. Basta apenas que você capriche em
cada uma dessas etapas que for passando. Assim, a vida terá mais sabor e a
gente encontra razões para lutar e não será nunca um profissional frustrado.
Ser
polivalente é uma característica que será muito cobrada no mundo globalizado. É
verdade que a ciência foi se especializando em partes, ou seja, o profissional
conhecia o todo, e agora conhece apenas o especifico, mas ainda assim um
profissional atuante, em diversas áreas, que conhece um pouco de tudo, é muito
mais valorizado dentro do seu próprio trabalho.
O
jovem que permanecia em mim, era um louco, pelo novo, por novas conquistas e
pela certeza de que dias melhores viriam. Era também um apaixonado pela vida e
por todos os seres humanos, era diante dos seus irmãos que este jovem se
tornava um ser essencialmente feliz.
Ser polivalente, às vezes, causa
inveja e transtornos indesejáveis para
quem é. Imagine você estando no seu
lugar, desempenhando uma função e chegar outra pessoa dando “pitaco” naquilo
que é de sua responsabilidade.
É chato! Não. É muito chato! Às vezes,
os polivalentes são tratados de metidos, é isso mesmo!
O jovem louco que resolveu ser
polivalente se preocupava muito com isso. Eu não queria que as pessoas me
vissem como mexeriqueiro, como um intrometido. Para isso não acontecer, me
espelhei no meu próprio rosto que mostrava uma face até então oculta. Eu
possuía uma característica que me era peculiar, a de sempre conseguir fazer
amigos. Como isso acontecia?
Através da minha simplicidade e
humildade, fui aprendendo a respeitar cada pessoa e a fazer dela o reflexo do
meu próprio rosto. Seguindo as palavras e ideologias do meu Mestre Maior, Jesus
Cristo que um dia teve a sabedoria de dizer: “Amai o teu próximo como a ti
mesmo”!
Ser polivalente é complicado, mas isso
não deve atrapalhar a pessoa de se aproximar do seu objetivo. É claro, precisamos tomar muito cuidado estando certo
ou errado, a pessoa será criticada e uma crítica sempre será uma crítica.
Poderá trazer transtornos irreparáveis tanto para a pessoa que a faz quanto
para quem recebe.
A polivalência, hoje, é uma
necessidade básica para ser um profissional de sucesso; é preciso buscar dentro
do nosso mundo, um outro mundo, que não se resume somente em repetir os mesmos
fracassos, e nos deixar em dúvida daquilo que queremos. É antes de tudo, se ter
certeza de um mundo repleto de horizontes onde a pessoa (o polivalente) navegue
dentro do seu ser e procure preencher com outras funções aquilo que ele não
encontra dentro da sua própria função.
AS MARCAS DE UMA EDUCAÇÃO
Sempre fico a imaginar dentro
de minha louca mente: O que será de nosso mundo, se a educação que está sendo
repassada já se perdeu nas curvas da estrada?
Sempre que precisamos inventar uma coisa nova, batemos de frente com um passado que nos dá a
resposta ao presente, ou seja, a
educação está sempre precisando de idéias novas. As idéias novas não existem. As pessoas não têm a coragem de ousar, por
isso sempre se vêem pregando teorias educacionais que, em diversas partes, já
fracassaram e sempre aparecem necessitando de uma mudança. Mas, o que eu,
uma pessoa completamente leiga, poderia dizer a respeito de um assunto que nem
mesmo conhecia em sua plenitude?
Não é preciso entender. Por
mais que façamos força, não conseguiríamos disfarçar os rumos que a educação
está tomando, não é possível para uma mente totalmente decapitada pelo
capitalismo selvagem e ignorada pela maioria das pessoas, conseguir uma
explicação convincente. A única coisa que me fez desacreditar na educação era a
forma de as pessoas: professores,
alunos, enfim, a sociedade se escondendo
com medo da transformação que ela mesma poderia causar a todos se fosse levada
a sério.
A educação é um caminho sempre pleiteado por todos, mas que, às
vezes, as pessoas não possuem ou não sabem usar o transporte adequado para que
possam trafegar por este caminho sem medo de seus obstáculos. Por causa disso
ficam à mercê da própria sorte. Ficando assim na dependência de um atalho para
recuperar o tempo gasto, prosseguir e retomar o seu percurso. Se você já sabe
do atalho, isto é, aprendeu, naturalmente, para poder avançar , mas se não, a
pessoa fica complicada para o resto da vida.
Na maioria das vezes a
educação de uma parte independe da vontade da outra, por ela ser individual na
sua prática, porque as pessoas são completamente diferentes uma das outras.
Mesmo assim, não se trata de um exercício vago é preciso acreditar, quando não
acreditamos, ela se perde e se transforma em fontes de desesperos e
alternâncias.
O jovem louco, talvez até por
ser diferente, mas nunca ausente se dispunha de armas poderosas: uma mente
bastante flexível e configurada até então para fazer os questionamentos certos
e buscar as respostas adequadas ou que mais se aproximavam da sua verdade.
Quando eu havia entrado na
escola para ser alfabetizado, fui compreendendo aos poucos que ela é o limite
de todo ser humano, e que somente ali é que a gente traça os objetivos
concretos para a nossa própria vida, mas a escola não é mais vista como uma
instituição séria até pelo fato da sociedade ter mudado completamente os seus
conceitos sobre educação.
Eu ficava ali naquela lástima
louca com minha mente amalucada tentando rever todos os meus princípios. O que
era entendido por educação? A educação só é vista como educação dentro de uma
escola? Ficava atordoado com tantas perguntas vagas e com tantas respostas que
não me davam realmente convicção de tudo que eu buscava dentro do meu
fantástico universo de pensamentos. Ainda assim, encontrava forças para
compreender uma coisa bastante certa, a educação nunca é feita sozinha a
sociedade sempre dita as regras, partindo de um ato solidário e nunca
solitário.
Para uma pessoa se ter sucesso
dentro da escola, é preciso antes de qualquer coisa possuir exemplos, e estes
são apregoados para as pessoas antes mesmas de freqüentarem as salas de aula.
Somente com exemplos práticos sejam eles de pais, irmãos, amigos é que uma
pessoa poderá ter êxito na sua vida educacional. Todo comportamento humano
depende da educação, de como ela foi adquirida,é verdade que há alguns casos
isolados como é o meu, pois só por ter pensamento oposto aos demais é que me
taxavam de louco, rebelde sem causa, e o pior, muitas vezes me ignoravam.
Aprendi a partir deste
momento, ser uma pessoa muito mais crítica, mas também muito mais dono de mim.
Descobri por meus próprios esforços aquilo que muitas vezes não seria possível,
a arte de aprender a viver vivendo. E vivendo, compreendi que todos os nossos
anseios só poderão nos trazer resultados se nós realmente tivermos uma educação
tanto doméstica quanto escolar ou social à altura.
A escola para o jovem louco
era a capacidade que ele possuía de traçar metas e fazer com que seus objetivos
fossem aos poucos se cristalizando e se tornando realidade. Era ali,
esquentando banco, que ele teria de passar a maior parte do seu tempo.
Estava cansado de olhar ao meu
redor e ver uma educação escolar fragilizada por um sistema falho e por uma
pirâmide catastrófica de problemas onde as pessoas não se preocupavam com os
rumos tomados por ela.
O ensino escolar brasileiro
sempre se viu cercado de pessoas que normalmente se mostravam alheios ao
progresso do processo, fazendo com que, cada um dos que estavam dentro dele se
tornassem também alheios ao novo. Deve ser por isso que eu possuía a firmeza
dentro dos meus ideais, nunca queria deixar transparecer para as pessoas que eu
sabia ou não sabia das coisas.
A minha educação era de um
autodidata, mas eu compreendi que todas as pessoas devem ser assim até porque é
preciso ter uma compreensão precoce de um determinado assunto. O que eu quero
dizer é que ninguém começa um aprendizado do nada, ou seja, conhecimentos
maiores certamente precisam de conhecimentos prévios anteriores.
Vi durante toda a minha vida,
pessoas se dizerem burras por não compreenderem certas coisas. Na escola não
foi diferente, muitas pessoas se
maldiziam que eram burros porque não aprendiam matemática e aqueles que
aprendiam com facilidade eram postos em graus superiores.
Aquilo me fazia mais volúvel,
eu não queria ser um mártir, uma figura a ser seguida, mas de qualquer forma eu
sabia que seria seguido por muitas pessoas. De alguma forma eu era o exemplo a
ser copiado, até porque os adolescentes de minha época não sabiam ser criativos
do mesmo jeito que eu era. Continuei a minha luta pela educação que é um dos
mitos da sociedade que sempre será necessário dentro de cada um.
Eu havia aprendido durante a
minha breve existência: nunca estaremos distantes da educação, nem da formal,
nem da informal pois sempre estaremos nos batendo de frente com qualquer uma
delas. É uma sociedade exigente, que exige a todos os momentos que façamos uma
reciclagem dos nossos conhecimentos, tanto como receptor como interlocutor.
Hoje nós estamos dentro de uma
escola por nossa causa, amanhã pelos nossos filhos e netos, e ainda eu penso
que não tenho nada a ver com isso? É a escola da vida ensinando sempre a lição
a ser seguida. A vida sendo necessária pela educação e a educação sendo a base
de uma sociedade no mínimo mais fortalecida de objetivos e atitudes.
É uma loucura também para mim
ver a loucura educacional que se manifesta em todas as vertentes da sociedade,
e é um abuso sentir a todos os momentos a guerra impulsiva pelo prazer do
conhecimento estampado em cada rosto que quer mas não busca, pois se buscasse
com certeza ele estaria a cada dia mais renovado e quando mais se busca algo mas
se pode ter.
O jovem louco só era capaz de
se sentir louco pela certeza de que seus passos seriam seguidos por alguém que
como ele tinha objetivos embora não muitos definidos, mas que sempre traziam
repercussões muito benéficas para o grandioso universo de pensamento de cada
pessoa que buscava segui-lo.
A gente nunca poderá se
imaginar o melhor e não era esse o pensamento do jovem louco, a educação seria
sua busca e sem dúvidas o alicerce para as suas conquistas. Não seria apenas
pelo fato das pessoas desacreditarem nelas que elas iriam se transformar num
amontoado de pensamentos mal elaborados e de buscas sem metas, ou seja, um
caminho que não iria levar a lugar algum. Mesmo tendo um pensamento
diferenciado dos demais seres da minha espécie, eu queria através da educação
aproximar mais um pouco dos outros seres e transformar não só o meu mundo, mas
o universo mágico que se encontra ao redor de cada pessoa.
A educação era a forma que eu
encontrava para extravasar os meus pensamentos e porque não dizer, os meus
próprios sentimentos. Ali dentro daquela sala com carteiras ora enfileiradas,
ora em círculos, eu teria que observar os professores lá na frente, às vezes
dizendo o que eu não gostaria de ouvir, mas que de certa forma, teria que me
acostumar,para mostrar posteriormente as minhas qualidades que por enquanto não
possuía ou não sabia colocá-las à mostra para as pessoas.
Fui observando… observando… e
aos poucos entendendo e me colocando dentro do meu universo de magia, aquilo
que eu gostaria de fazer e de traçar para a minha vida. Uma busca que a
educação, apesar de tão fragilizada, seria o ponto crucial para que de certa
forma eu consiga chegar ao meu objetivo.
De tanto observar os mestres…
comecei… a me identificar cada vez mais com alguns deles… e num futuro bem
próximo… quem sabe…teria que me acostumar até a ser um deles. E porque não
buscar então o que cada um poderia me oferecer de melhor? Era assim que o jovem
louco se sentia… buscar o melhor de cada um… e fazer dele uma mistura no mínimo
mais completa… para que o seu mundo fosse completamente transformado, mas
transformado de maneira plena e capaz. Era preciso ser assim e, apesar das
dificuldades, fui assimilando o que as pessoas poderiam me oferecer e consegui
separar tudo aquilo que seria melhor para mim e para a vida daqueles que se
encontravam à minha volta.
Só a educação educaria minha
forma de ser, e eu contribuía para que ela fosse sempre melhor, apenas havendo
uma entrega mutua é que o nosso mundo poderá ser melhor e muito mais humano. O
jovem louco fará de tudo para que as pessoas não esqueçam nunca que eles são
capazes e responsáveis por cada atitude cometida por elas no decorrer de sua
trajetória de vida.
A felicidade existe…o amor
existe… o Paraíso existe… e é preciso realmente que acreditemos nas suas
existências, pois do contrário é melhor que nós mesmos nem acreditemos na nossa
própria existência. Na fragilidade é que conseguimos mostrar toda a nossa
fortaleza e nós só conseguimos ser à medida que conseguimos amar. Eu amo!!!
Ei! Ops! Por que será que
ninguém consegue me escutar? A vida já me fez tantas surpresas! Mas mesmo assim
estou firme de pé! Com os ouvidos bem abertos somente escutando! Com os olhos
sempre arregalados observando cada gesto humano! Com as minhas mãos sempre
ocupadas tentando acalentar e oferecer um pouco de ajuda para as pessoas, mas
sem apontar defeitos. Com a minha boca sempre querendo falar alguma coisa boa e
bonita para as pessoas.
Espero que cada um consiga
entender aos poucos o que eu sou, e que também aos poucos se interajam e sejam
de certa forma mais um louco a lutar por um sonho o de conseguir não ser
transformado e nem excluído por essa sociedade tão excludente.
O que realmente eu gostaria
era que cada um, fosse um pouco de mim e aos poucos seriam dezenas… centenas…
milhares… bilhares…de pequenos ou grandes loucos que farão da minha sociedade
algo muito melhor, e eu não me sentiria assim tão solitário.